Acho maravilhosas as histórias de aprendizagem ao longo da vida. Em algum momento da minha vida eu também tive que perceber que o aprendizado era em si mesmo a chave para a realização pessoal, e não uma ferramenta para criar coisas.
Levei metade do meu tempo sobre este planeta para perceber que nossas criações são marcadores temporários de nosso crescimento e tendem a ser pontos culminantes, isolados, na vida; aqueles do quais nos lembramos. Mas somente o aprendizado constante e anônimo nos permite continuar a crescer.
Eu amo matemática desde que me vi sentado em uma aula de álgebra na 5ª série – o mundo adulto finalmente estava ao meu alcance, fantasiava eu inocentemente. Não foi até o colegial técnico, no entanto, quando fui apresentado ao conceito de números imaginários e a raiz quadrada de menos um, que comecei a ver na matemática uma certa mágica que estranhamente desafiava a lógica, em vez de defini-la.
Uma vez que você vê alguém usar abstrações matemáticas para resolver problemas do mundo real, você começa a ver Deus na máquina. A multiplicação de 1 por i, a unidade imaginaria (1 x i) é geometricamente equivalente a uma rotação de 90 graus. Assim, podemos usar esse princípio para fazer algo concreto. E, de fato, fazemos; esse princípio é usado nos smartphones para mapear a rotação da tela. Portanto, às vezes é preciso entrar no reino dos números imaginários para encontrar uma solução – multiplicar por i – que pode ser aplicada aos problemas do mundo real. Mas os professores parecem nunca nos dar exemplos simples como esse em sala de aula.
Por um aprendizado natural
Se a matemática fosse ensinada às crianças na escola primária por verdadeiros amantes da matéria, provavelmente encorajaríamos mais crianças a apreciar a matemática e toda a sua maravilhosa simplicidade. Ou se talvez o ensino de matemática pudesse começar com a teoria dos conjuntos – que traz conceitos instintivos (união, intersecção, pertencer, não pertencer) – ao invés da abstrata teoria dos números e suas operações.
Nosso sistema de ensino obriga os professores a focar em um rigor desnecessário em que a resposta a um problema colocado sempre deve ser estritamente correta ou incorreta. Isso conflita com a função básica do sistema de ensino que é estimular nas crianças e jovens o exercício do processo mental, o algoritmo do pensamento – para não dizer que, em algumas áreas, também conflita com o Princípio da Incerteza de Heisenbeg.
Como grande parte dos alunos hoje faz seus trabalhos e exames em computadores, os professores não revisam fisicamente o rascunho dos trabalhos escolares/acadêmicos e portanto não vêem o desenvolvimento do processo de pensamento de seus alunos/orientados. Além disso, como a maioria dos professores naturalmente não é acadêmica, por uma questão de praticidade eles ensinam simplesmente da maneira que é indicada na edição do professor do livro didático.
Há muitas maneiras de pensar sobre problemas matemáticos. Se os alunos pudessem ser encorajados a pensar em formas inusitadas e originais de atacar os problemas, talvez então não incutiríamos tanta ansiedade e aversão à matemática na tenra idade.
Beleza e utilidade
Além de bela a matemática também é incrivelmente útil. Assuntos como teoria dos grupos e geometria diferencial, que começaram como matemática pura, desempenharam papéis importantes na física de altas energias e na relatividade geral, respectivamente. O campo relativamente novo da informação quântica é bastante matemático, extraindo resultados da teoria dos grupos – que generaliza a citada teoria dos conjuntos – e da teoria dos números, também acima mencionada, bem como de outras áreas da matemática. Em suma, o universo fala matemática.
Encorajamento familiar
O fator que mais determina como as crianças vêem e se comportam em relação à matemática é o que os adultos lhes dizem. Os pais muitas vezes se tornam o maior obstáculo no aprimoramento dos métodos de ensino de matemática porque eles mesmos trazem uma bagagem equivocada [“você nunca vai usar na vida real”, “matemática é difícil mesmo”]. A pobreza dos estímulos ambientais na era das redes sociais e da economia da atenção também têm sua cota de contribuição para este estado de coisas.
Estudos mostram que mais da metade dos calouros universitários que pretendem se formar em ciências ou engenharia desistem após a primeira aula de matemática na faculdade porque não tiram A e acabam por achar que é muito difícil. Frequentemente os adultos são os principais culpados.
Não podemos ser um país de artistas e sociólogos apenas, por mais exuberantes que eles sejam. Temos necessidade vital de ciência bruta e das várias engenharias. O promissor campo da inteligência artificial usa uma matemática pesada. Temos uma enorme escassez de professores e outros especialistas qualificados em matemática. Não podemos perder de vista o simples fato de que todo nosso estilo de vida baseado na tecnologia depende criticamente da matemática.
Epílogo
Recentemente de volta à universidade para uma nova rodada de estudos, enquanto eu refazia alguns dos cursos tive vários momentos de gratidão às estrelas por ter sempre entendido que aquelas matérias como matrizes, derivações e integrações, e propriedades como a propriedade associativa e a propriedade comutativa, não eram apenas extras inconsequentes; eram fundamentais não apenas para entender matemática, mas para entender muitas outras coisas nos sistemas compostos por humanos.
Desde o início da minha vida profissional, tentei ao máximo vincular a matemática ao mundo real e às “disciplinas do mundo”. Alguns campos da matemática, até aqueles que não consideramos relacionados à matemática, são fundamentais, e podem fazer a diferença em situações pessoais decisivas. Não apenas os campos óbvios da física, química, engenharia e economia.
- A evolução da história está repleta de conexões com grandes descobertas e desenvolvimentos matemáticos;
- Obviamente, entender o funcionamento interno do corpo humano depende principalmente da matemática;
- O mesmo com as artes em geral e a música em particular.
Antes da era romana, os filósofos gregos criaram alguns dos fundamentos da lógica matemática. Após a queda de Roma, os árabes inventaram a álgebra e muitos outros desenvolvimentos. Nossos ancestrais culturais, os romanos, no entanto, embora usassem a geometria constantemente em sua fenomenal engenharia, praticamente nada contribuíram para o desenvolvimento formal da matemática.
Talvez eles estivessem ocupados demais a promover guerras e conquistas.
Se alguém por acaso lê isto, lembro que este é o mês de aniversário do blog – 2 anos, e temi não ter tempo para postar esta peça. Teria sido lamentável; o único mês sem postagem na curta história do blog. Ufa, não desta vez.
A partir de abril vou começar a escrever bastante sobre AI e visão de computador. Na próxima semana trago um post sobre meu sensacional – e único – dataset para visão de computador na pecuária, minha nova paixão. Conteúdo altamente informativo em que o destaque é a busca da adaptação da IA ao ambiente brasileiro. Vamos aprender juntos.