No último post [27/07] nós discutimos – com a contribuição de estimados leitores – a transformação ora empreendida pelo Facebook(*) no sentido de imitar o TikTok, o que vem a significar o fim das redes sociais como as conhecemos.

Aconteceu, porém, um evento inesperado ontem [28/07], em que a holding Meta anunciou algumas pedaladas para trás em suas metas [trocadilho infame pero inevitable]. Reproduzo abaixo, destacando em cor diferente, a abordagem do site The Verge:
O Instagram vai recuar em algumas mudanças recentes no produto após uma semana de críticas intensas, disse a empresa hoje [28/07] . A versão de teste do aplicativo – que abre em tela cheia para fotos e vídeos – será desativada nas próximas duas semanas. O Instagram também reduzirá o número de postagens recomendadas, à medida que trabalha para melhorar seus algoritmos.
“Estou feliz por termos arriscado – se não falharmos de vez em quando, não estamos pensando grande o suficiente ou sendo ousados o suficiente”, disse o chefe do Instagram, Adam Mosseri, em entrevista. “Mas nós definitivamente precisamos dar um grande passo para trás e nos reagrupar. Quando aprendermos melhor, então voltaremos com alguma nova ideia ou iteração. Vamos trabalhar nisso.”
As mudanças ocorrem em meio à crescente frustração do usuário com uma série de mudanças projetadas no Instagram para ajudá-lo a competir melhor com o TikTok e navegar na mudança mais ampla verificada no comportamento do usuário, para mais longe da fotografia, voltando a sua atenção aos vídeos. Esse tipo de redesenho geralmente provoca a ira de usuários resistentes à mudança. Todavia, neste caso, a insatisfação notável foi confirmada pelos próprios dados internos do Instagram, disse Mosseri. A tendência de os usuários assistirem a mais vídeos é real e veio antes do TikTok, disse ele.
Mas é claro que as pessoas realmente não gostaram das mudanças de design do Instagram. “As pessoas estão frustradas com as recentes modificações no design e o feedback trazido pelos dados não é bom”, disse ele. “Então, acho que precisamos dar um grande passo para trás, reagrupar e descobrir como vamos querer seguir em frente”.
A empresa também planeja mostrar aos usuários menos recomendações de algoritmo. Na quarta-feira [27/07], o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, disse que postagens e contas recomendadas atualmente representam cerca de 15% do que você vê quando navega no Facebook, com uma porcentagem maior no Instagram.
Até o final de 2023, esse número será de cerca de 30%, disse Zuckerberg. Mas o Instagram reduzirá temporariamente a quantidade de postagens recomendadas, enquanto trabalha para melhorar suas ferramentas de personalização. Mosseri deixou claro que o recuo anunciado hoje não é permanente.
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(*) No post de quarta-feira eu não mencionei especificamente o Instagram, assim como não o fiz no título de hoje, em parte porque eu estou acostumado a me referir ao grupo Meta genericamente como “Facebook”. De fato é o Instagram que está a atrair uma maior barragem de fogo no momento, principalmente nos mercados avançados.
As redes da Meta compartilham a árvore decisória e a orientação tecnológica, o que significa que os nomes das duas redes são um tanto quanto intercambiáveis quando o assunto é o uso algoritmos para recomendação de conteúdo.
Uma rápida análise final
Parece haver uma obsessão envolvida em todo esse negócio de o Facebook tentar perseguir o mesmo mercado que o TikTok – os jovens.
Dado que nos países mais ricos – e no Brasil também – a demografia mostra claramente que há uma forte tendência ao envelhecimento da população, a estratégia do Facebook faz pouco sentido. Você acaba alienando os dois campos, tentando ser o que você não é. De um ponto de vista racional, ele deveria ter continuado com foco na realidade do mercado que tem.
A juventude e a moda sempre foram inconstantes e a marcas Facebook e Instagram hoje em dia são efetivamente um veneno para os jovens, desprezadas, ridicularizadas. Isso não vai mudar tentando torná-lo um outro TikTok. É simplesmente tarde demais.
Tentando esconder o elefante-na-sala
Zuckerberg diz que apenas 15% do conteúdo do Facebook/Instagram é originário de recomendação de algoritmos, e que o objetivo é chegar a 30% no fim do ano que vem. Isso é claramente uma falsidade, uma vez que obviamente não inclui a contribuição de terceiras partes para as recomendações de conteúdo – e nem o que é medido por observadores independentes. Lembro que para ser igual ao TikTok – e pode apostar que Zuckerberg quer ser – é necessário 100% de conteúdo recomendado e 0% de conteúdo social.
Final
A Meta não vai simplesmente desistir das mudanças anunciadas para Facebook/Instagram. A Corporação vai agora retomar a implementação das mudanças em um tom menos estridente, com um pouco mais de vagar, a conta-gotas – como sempre fez.
Já passamos do ponto onde a Meta poderia escolher sua estratégia. Agora o único caminho a seguir é ir em frente com as mudanças. Parar agora significa colapso total do negócio.
Eu ando particularmente contente com a possibilidade da restauração dos princípios originais das redes sociais [don’t be evil!], com a saída/eliminação do grande monopolista e a chance de participação de novas empresas, ideias e visões.
O que foi dito no post de quarta-feira, continua válido, e deverá ser implantado em um perfil temporal mais longo. Não terei que esperar muito — não estou ficando mais jovem. Com base na experiência anterior posso dizer que, se tiver recursos, no final de 2023 a Meta estará fazendo exatamente o que planejou fazer.