Tirando a Adivinhação do Cuidado Bucal – com Inteligência Artificial

Overjet – fundada por alunos do MIT – analisa e anota radiografias bucais para ajudar dentistas a oferecer cuidado mais abrangente

Zach Winn | MIT News Office

A Overjet, fundada por alunos do MIT, usa inteligência artificial para anotar radiografias para dentistas – Imagem: Cortesia de Overjet

Quando você imagina um radiologista em um hospital, pode ser que você pense em um especialista que se senta em uma câmara escura e passa horas examinando raios-X para fazer diagnósticos.

Compare essa imagem mental com seu dentista, que além de interpretar raios-X também tem que fazer cirurgias, gerenciar equipe, comunicar-se com pacientes e administrar seus negócios. Quando os dentistas analisam raios-X, eles o fazem em salas iluminadas e em computadores que não são especializados em radiologia, e geralmente com o paciente sentado ao lado deles.

Portanto não é surpresa que dentistas que analisam um mesmo raio X possam propor tratamentos diferentes. “Os dentistas fazem um ótimo trabalho, considerando todas as suas ocupações”, diz Wardah Inam SM, PhD. Inam é cofundadora da Overjet, uma empresa que usa inteligência artificial para analisar e anotar raios-X para dentistas e seguradoras.

A Overjet busca tirar a subjetividade das interpretações de raios-X para melhorar o atendimento ao paciente. “Trata-se de avançar para uma medicina mais precisa, onde temos os tratamentos certos na hora certa”, diz Inam, que cofundou a empresa com Alexander Jelicich. “É aí que a tecnologia pode ajudar. Uma vez que quantificamos a doença, podemos facilitar a recomendação do tratamento correto.”

Overjet foi aprovado pela Food and Drug Administration [EUA] para detectar e delinear cáries e quantificar os níveis ósseos como auxílio no diagnóstico da doença periodontal, uma infecção gengival comum, mas evitável, que causa a deterioração do maxilar e de outros tecidos que suportam os dentes. Além de ajudar os dentistas a detectar e tratar doenças, o software da Overjet também foi projetado para ajudar os dentistas a mostrar aos pacientes os problemas que estão vendo e explicar por que estão recomendando determinados tratamentos.

A empresa, que já analisou dezenas de milhões de raios-X, é usada por clínicas odontológicas em todos os Estados Unidos e atualmente está trabalhando com seguradoras que representam mais de 75 milhões de pacientes nos EUA. Inam espera que os dados que a Overjet está analisando possam ser usados para agilizar as operações e melhorar o atendimento aos pacientes. “Nossa missão na Overjet é melhorar a saúde bucal criando um futuro clinicamente preciso, eficiente e centrado no paciente”, diz Inam.

Foi uma jornada relâmpago para Inam, que não sabia nada sobre a indústria odontológica até que uma experiência desconcertante despertou seu interesse em 2018.

Chegando à raiz do problema

Inam veio para o MIT em 2010, primeiro para seu mestrado e depois seu doutorado em engenharia elétrica e ciência da computação, e diz que pegou o vírus do empreendedorismo desde cedo. “Para mim, o MIT era uma área livre à experimentação, onde você podia aprender coisas diferentes e descobrir o que você gosta e o que você não gosta”, diz Inam. “Além disso, se você está curioso sobre um problema, pode realmente mergulhar nele.”

Enquanto fazia aulas de empreendedorismo na Sloan School of Management, Inam acabou iniciando uma série de novos empreendimentos com colegas de classe. “Eu não sabia que queria começar uma empresa quando vim para o MIT”, diz Inam. “Eu sabia que queria resolver problemas importantes. Passei por essa jornada de decidir entre a academia e a indústria, mas gosto de ver as coisas acontecerem mais rápido e gosto de causar impacto na minha vida, e foi isso que me atraiu para o empreendedorismo.”

Durante seu pós-doutorado no Laboratório de Ciência da Computação e Inteligência Artificial (CSAIL), Inam e um grupo de pesquisadores aplicaram aprendizado de máquina a sinais wireless para criar sensores biomédicos que pudessem rastrear os movimentos de uma pessoa, detectar quedas e monitorar a frequência respiratória.

Ela não tinha interesse pela odontologia até depois de deixar o MIT, quando teve que mudar de dentista e recebeu um plano de tratamento totalmente novo. Confusa com a mudança, ela pegou seus raios-X e pediu a outros dentistas para dar uma olhada, apenas para receber mais variações nas recomendações de diagnóstico e tratamento.

Nesse ponto, Inam decidiu mergulhar na odontologia por conta própria, lendo livros sobre o assunto, assistindo a vídeos no YouTube e, eventualmente, entrevistando dentistas. Antes que ela percebesse ela estava gastando mais tempo estudando sobre odontologia do que em seu trabalho.

Na mesma semana em que Inam deixou o emprego, ela soube da competição Hacking Medicine do MIT e decidiu participar. Foi aí que ela começou a construir sua equipe e a fazer conexões. O primeiro financiamento da Overjet veio do grupo de investimentos afiliado ao Media Lab, o E14 Fund.

“O fundo E14 fez o primeiro cheque, e acho que não teríamos chegado a existir se não fosse por eles nos dando uma chance”, diz ela. Inam aprendeu que um grande motivo para a variação nas recomendações de tratamento entre os dentistas é o grande número de opções potenciais de tratamento para cada doença. Uma cárie, por exemplo, pode ser tratada com uma restauração, uma coroa, um canal radicular, uma ponte, e assim por diante.

Quando se trata de doença periodontal, os dentistas devem fazer avaliações milimétricas para determinar a gravidade e a progressão da doença. A extensão e progressão da doença determina o melhor tratamento. “Eu senti que a tecnologia poderia desempenhar um grande papel não apenas para melhorar o diagnóstico, mas também para comunicar com os pacientes de forma mais eficaz, para que eles entendam e não precisem passar pelo processo confuso que fiz de me perguntar quem está com a razão”, diz Inam.

A Overjet começou como uma ferramenta para ajudar as seguradoras a otimizar os sinistros odontológicos antes de começar a integrar sua ferramenta diretamente nas clínicas odontológicas. Todos os dias, algumas das maiores organizações odontológicas do país estão usando Overjet, incluindo Guardian Insurance, Delta Dental, Dental Care Alliance e Jefferson Dental and Orthodontics.

Hoje, à medida que um raio-X odontológico é importado para um computador, o software da Overjet analisa e anota as imagens automaticamente. No momento em que a imagem aparece na tela o sistema tem informações sobre o tipo de raio-X tirado, como os dentes podem ser afetados, o nível exato de perda óssea, anotando com sobreposições de cores, indicando a localização e gravidade das cáries e muito mais. A análise efetuada fornece aos dentistas mais informações para informar os pacientes sobre as opções de tratamento.

O software da Overjet analisa e anota radiografias bucais automaticamente em tempo quase real, oferecendo informações sobre o tipo de radiografia tirada, como um dente pode ser afetado, o nível exato de perda óssea, com sobreposições de cores, a localização e gravidade das cáries, e mais. (clique para abrir a imagem no tamanho original) – Imagem: Cortesia de Overjet

“Agora, o dentista ou higienista só precisa sintetizar essas informações e usar as ferramentas incluídas no software para se comunicar com você”, diz Inam. “Aí então, ele vai te mostrar as radiografias com as anotações do Overjet e dizer: ‘Você tem 4 milímetros de perda óssea e está no vermelho; isso é mais do que os 3 milímetros que você tinha da última vez, então vou recomendar o tratamento x, y, z.” O Overjet também incorpora informações históricas sobre cada paciente, rastreando a perda óssea em cada dente e ajudando os dentistas a detectar casos em que a doença está progredindo mais rapidamente.

“Vimos casos em que um paciente com câncer com xerostomia pode ir do nada para algo extremamente ruim nos seis meses entre as visitas. Esses pacientes devem ir ao dentista com mais frequência”, diz Inam. “Trata-se de usar dados para mudar a forma como praticamos o atendimento, planejamos o tratamento e oferecemos serviços para diferentes tipos de pacientes.”

O sistema operacional da odontologia

A FDA autorizou a Overjet a operar em duas doenças altamente prevalentes. A autorização também coloca a empresa em posição de conduzir análises em nível de setor e ajudar as clínicas a se compararem com seus pares. “Usamos a mesma tecnologia para ajudar as clínicas a entender o seu desempenho e melhorar as operações”, diz Inam. “Podemos olhar para cada paciente em cada clínica e identificar como elas podem usar o software para melhorar os cuidados que estão fornecendo.”

Seguindo em frente, Inam vê a Overjet desempenhando um papel fundamental em praticamente todos os aspectos das operações odontológicas. “Estas radiografias foram digitalizadas há bastante tempo, mas nunca foram usadas porque os computadores não conseguiam lê-las”, diz Inam. “A Overjet está transformando dados não estruturados em dados que se pode analisar.

No momento, estamos construindo a infraestrutura básica. Eventualmente, queremos expandir a plataforma para melhorar qualquer serviço que uma clínica possa fornecer, basicamente nos tornando o sistema operacional da clínica para ajudá-las a fazer seu trabalho de forma mais eficaz.”

Republicado com a permissão de MIT Newshttps://news.mit.edu/

Tradução: Eraldo. B. Marques

~ o ~

Nota de VoxL: Tenho uma longa história de colaboração com odontólogos e radiologistas, em vários projetos. Nos últimos anos tenho me capacitado no campo do Aprendizado de Máquina (AI) e me preparo para oferecer serviços como o descrito no artigo — começando ainda em 2022, espero. Estamos trabalhando nos detalhes do fluxo de trabalho.

Alguns meses atrás eu fiz um post explorando o tema da visão de computador (VC) [link], enfocando de forma prática a análise facial.

Desejamos boa sorte à Overjet no marcado brasileiro, mas aviso que seremos concorrentes [Hey, há um lugar para todos sob o Sol!].

O Linux Vai um Dia Conquistar o PC?

No site The Register encontro um artigo de opinião escrito pelo veterano repórter de tecnologia e entusiasta do GNU/Linux, Steven J. Vaughan-Nichols, do qual transcrevo trechos para depois comentar.

Linux Mint
Área de trabalho do esplêndido Linux MintImagem: WikiMedia Commons

[…] tendo coberto o mundo do desktop Linux (…), acho que usei mais dele do que qualquer outra pessoa que também tenha uma vida além do PC. Em suma, eu amo o desktop Linux. Muitas distribuições do Linux para desktop são ótimas. Eu sou um grande fã do Linux Mint há anos. Também gosto, em nenhuma ordem específica, do Fedora, openSUSE, Ubuntu e MX Linux. Mas você sabe o que? Isso é um problema. Temos muitas distribuições de desktop Linux excelentes, o que significa que nenhuma delas consegue ganhar participação de mercado suficiente para causar qualquer impacto real no mercado geral.

[…]Além de mais de 200 distribuições, existem 21 interfaces de desktop diferentes e mais de meia dúzia de gerenciadores de instalação de software, como o Debian Package Management System (DPKG), Red Hat Package Manager (RPM), Pacman, Zypper e muitos outros. Depois, há toda uma gama desses novos contêineres para instalar programas, incluindo Flatpak, Snap e AppImage. Eu mal consigo ver todos e isso sendo parte do meu trabalho! Como esperar que os usuários comuns entendam tudo isso? É impossível. Nenhum dos principais distribuidores Linux – Canonical, Red Hat e SUSE – realmente se importa com o desktop Linux. (…) seu dinheiro vem de servidores, contêineres, nuvem e Internet das Coisas (IoT). Desktop? Por favor. Devemos apenas ficar felizes por eles gastarem tanto no desktop.

[…]Agora, dito tudo isso, não quero que você tenha a impressão de que não acho que o desktop Linux seja importante. Eu acho. Na verdade, acho crítico. A Microsoft, você vê, está abandonando o desktop tradicional baseado em PC. (…) em favor da “nuvem”. Isso significa que o futuro do sistema operacional de desktop estará nas mãos da Apple, com o macOS, e nas nossas, com o Linux. Como alguém que se lembra da transição de mainframes, controlados centralmente, para PCs, de uso individual, não quero retornar a um mundo onde todo o poder pertence à Microsoft ou a qualquer outra corporação.

“O desktop Linux nunca será tão grande quanto o Windows já foi”, escreve Vaughan-Nichols no encerramento. “Entre a ascensão dos serviços de nuvem e o domínio do smartphone, não é possível isso acontecer. Mas ele ainda pode se tornar o desktop convencional mais popular.”

Linux precisa de padrões

Foi oportuna a ênfase nos usuários avançados. De muitas maneiras, eles são o centro de gravidade em um ecossistema de tecnologia.

Quase todos os usuários avançados/técnicos que conheço querem “padrões”. As distribuições Linux estão repletas de padrões por baixo do capô, mas não há um padrão de certificação de hardware (portanto, encontrar periféricos compatíveis é sempre estranho, além de arriscado) e não há uma interface de usuário padrão. Os usuários técnicos querem essas duas coisas. Um técnico que seja obrigado a dar instruções de suporte técnico ao usuário, ensinando a ele comandos de terminal porque não há uma Interface Gráfica padrão é um técnico que um dia dará as costas ao “desktop Linux”.

Três posições – ao meu ver equivocadas – que a comunidade FOSS [Free Open Source SoftwareSoftware Livre] assume, e que levam a essa situação são:

1. Pregar que o “’Linux’ é um sistema operacional”. Fora do âmbito técnico essas palavras alienam o ouvinte. Apenas os técnicos entendem ou se interessam por esse jargão. Para qualquer pessoa com mentalidade de consumidor (que inclui a maioria dos usuários avançados) isso não significa nada. Aliás, tenho receio de ter perdido leitores no início deste texto, com todas aquelas siglas e nomes esquisitos. Se você ainda está aqui, receba minha admiração pela sua capacidade de foco(*). É preciso vender o Linux como uma solução a problemas comuns e não um ‘sistema operacional’. Não me ocorre no momento nenhum remédio para esse problema crítico de comunicação, mas ele tem que ser superado.

2. Inconsistência nas interfaces de usuário. “Interfaces são compromissos” (aprendi isso em Análise de Sistemas). A fragmentação do Linux é ainda maior quando se fala nos ambientes gráficos de usuário disponíveis (GNOME, KDE, MATE, etc). Interfaces são compromissos para todos os envolvidos. Se uma determinada categoria de stakeholder experimenta o computador como algo caótico, nunca previsível, o sistema todo pode desmoronar. Os computadores devem fornecer consistência ou então enfrentar o opóbrio.

3. Opções demais para instalação e atualização. O “empacotamento” da distribuição sempre foi hostil, tanto ao desenvolvedor de aplicativos quanto ao usuário, de novo por razões de fragmentação do ecossistema. Cada distribuição tem seu gerenciador de pacotes particular. Uma tentativa de solução proposta é o padrão universal Snap no qual se baseia o popular Snapcraft. Segundo a Wiki “Snapcraft é uma ferramenta para desenvolvedores empacotar seus programas no formato Snap. Ele roda em qualquer distribuição Linux suportada por Snap, macOS e Microsoft Windows. O Snapcraft compila os pacotes de forma a garantir que o resultado de uma compilação seja o mesmo, independentemente de qual distribuição ou sistema operacional ele é compilado”.

Faça como o Windows

Para merecer a atenção e o investimento do público em geral, os desenvolvedores de desktops FOSS precisam voltar sua mentalidade para as questões: a) Como fazer para que as pessoas fiquem empolgadas o suficiente com a plataforma para começar a escrever aplicativos para ela? b) Como juntar desenvolvedores de aplicativos e usuários finais da maneira mais satisfatória possível?

As respostas para isso podem variar às vezes, mas geralmente se parecem com:

  • Integrar o sistema verticalmente
  • Manter o visual consistente – mas não espartano

A maioria dos usuários avançados prefere Windows ou OS X exatamente por esses motivos!

Em oposição, o FOSS – como eu o o conheço – sempre tende a enfatizar a integração horizontal, a resolução de dependências através de bibliotecas, UIs descartáveis e APIs espartanas – todas as respostas erradas para desafiar a Microsoft no campo do desktop!

Além disso, se você tiver uma coleção de APIs para desktop, elas apenas serão úteis se todo o conjunto tiver versões padrão. Mesmo assim a comunidade de distribuição Linux não se importa em misturar as versões upstream conforme cada um achar melhor – isso seria perfeitamente razoável em um mundo em que todos os “desenvolvedores” fossem hackers de sistema.

O Google (Alphabet) aparentemente descobriu a solução para a maioria dos problemas acima com o Android, construído a partir do Kernel do Linux, mas sempre pronto para substituí-lo/alterá-lo/descartá-lo.

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(*) A propósito disto, respeito muito a inteligência das pessoas que se propõem a ler este blog, e não faço concessões ao fácil [:wink]

Momento Pede Cautela com Aplicativos Financeiros

O site Protocol informa que as avaliações de valor das ações das fintechs têm despencado mais rápido e com mais força do que o resto do setor de tecnologia.

Fintech
Imagem: Pexels

De acordo com o artigo no Protocol,

um gráfico publicado pela a16z mostra que o pico de múltiplos [o que são ‘múltiplos’ no contexto das ações] de receita futura para empresas de fintech foi em outubro de 2021, quando atingiu quase 25x. Agora, caiu para menos de 5x. De acordo com dados da F-Prime Capital, esta é uma queda mais acentuada do que a verificada em outros setores da tecnologia.

Até 2019, as fintechs estavam em relativa sintonia com as altas das empresas emergentes dos serviços de nuvem. Entre 2020 e 2021 a valorização subiu como um foguete para ficar muito acima do desempenho das outras empresas de serviços de nuvem. Mas desde o início deste ano, o índice fintech da F-Prime vem caindo. Ele chegou a cair abaixo abaixo do índice de nuvem no final de março. À medida que as fintechs públicas estão vendo seus valores de mercado encolherem, será mais difícil para as empresas ainda privadas justificarem suas próprias avaliações exuberantes.

A queda das avaliações do mercado público golpeou o mercado com força extra esta semana. Mais startups de fintech começaram a fazer cortes. Das 19 demissões em massa listadas no Layoffs.FYI esta semana, nove foram em empresas financeiras. A Klarna disse aos funcionários, por meio de uma mensagem de vídeo, que demitiria 10% de sua força de trabalho. “Quando estabelecemos nossos planos de negócios para 2022, no outono do ano passado, era um mundo muito diferente do que estamos hoje”, disse o CEO Sebastian Siemiatkowski no vídeo.

Definições

Fintech é uma uma palavra composta da língua inglesa que significa “tecnologia financeira”. É um termo genérico para qualquer tecnologia usada para aumentar, simplificar, digitalizar ou competir com os serviços financeiros tradicionais.

Fintech refere-se a software, algoritmos e aplicativos para ferramentas baseadas em computador e dispositivos móveis. Em alguns casos, também inclui hardware – como cofrinhos inteligentes e conectados ou plataformas de negócios baseadas em realidade virtual (VR). As plataformas de fintech permitem que o usuário desempenhe tarefas comuns, como depositar cheques, movimentar dinheiro entre contas, pagar contas ou solicitar ajuda financeira.

Elas também abrangem conceitos tecnicamente complexos, como empréstimos ponto a ponto ou trocas de criptomoedas. Essa complexidade, porém, não impede que influencers [atrizes da lista B, designers de unhas, coaches de maquiagem, nutricionistas autodidatas] e figuras do entretenimento [cantores de funk, DJ’s, sofredoras sertanejas, etc.] posem de consultores financeiros a exaltar as fintechs no horário nobre da televisão e nas infames redes sociais.

Os bancos usam fintechs para processos de back-end – monitoramento da atividade da conta, por exemplo – e soluções voltadas para o consumidor, como o aplicativo que você usa para verificar seu saldo. Indivíduos usam fintech para tudo, desde cálculos de impostos até incursões nos mercados, sem necessidade de experiência prévia em investimento (o horror, o horror!).

As empresas contam com as fintechs para processamento de pagamentos, transações de comércio eletrônico, contabilidade e, mais recentemente, para buscar assistência em programas de assistência governamental. Após a pandemia da COVID-19, mais e mais empresas estão recorrendo às fintechs para habilitar recursos como pagamentos “sem fricção” ou outras transações baseadas em tecnologia.

Aumento da concorrência global

Historicamente, as instituições financeiras tradicionais sempre foram protegidas pelas condições nacionais de seus respectivos mercados. Dentro de cada jurisdição nacional há um conjunto diferenciado de condições e regulamentações financeiras, gerando instituições financeiras compatíveis com serviços adaptados às necessidades locais.

Nos últimos anos, no entanto, essas fronteiras nacionais foram rapidamente erodidas, impulsionadas pela rápida ascensão de empresas de fintech que oferecem soluções financeiras globais. Como resultado, as finanças institucionais foram forçadas a competir de passo a passo com essas empresas aparentemente ágeis ou aprender a cooperar e estabelecer parcerias com elas.

Essa dinâmica do “tradicional versus ágil” alimentou um cenário competitivo em todo o mundo, e os jogadores que desejam prevalecer nessa corrida precisam escolher suas alianças estratégicas com sabedoria.

No caso de muitas fintechs, buscar alianças com terceiros não é uma escolha. Seus modelos de negócios realmente dependem disso. Para as equipes de operações computacionais, a pressão adicional da concorrência e a necessidade de contratar serviços e parcerias de terceiros para se manter à frente são fontes de risco operacional que podem aumentar a exposição além de qualquer controle.

‍Responsabilidade profissional e pessoal

No final das contas, a maioria das fintechs fornece ou habilita um serviço financeiro.

Isso – por si só – expõe a empresa à negligência, erros de serviço, reclamações de fraude e vários outros riscos comuns associados a serviços financeiros. As fintechs, que oferecem produtos financeiros totalmente novos por meio de modelos de serviços inovadores, são especialmente propensas a se encontrar no lado errado das reivindicações de responsabilidade profissional.

Em geral, o problema é de desajuste: as fintechs geralmente sobrecarregam sua própria capacidade operacional e não padronizam novos processos, gerando assim cada vez mais erros. Os consumidores, por outro lado, são propensos a usar os aplicativos de fintech com pouca atenção, sem conhecimento básico de tecnologias da web e quase sempre sem tomar medidas de precaução para proteger a si mesmos, seus dados e seu dinheiro.

Fintechs têm o dever ético de mitigar os riscos operacionais

O risco operacional é o risco de fazer negócios com fintechs, e gerenciar esse risco é uma prioridade inevitável para qualquer liderança de operações. Na maioria das vezes, a maior exposição ao risco pode ser encontrada em processos operacionais mal implementados. A mitigação de riscos geralmente começa com a aplicação de uma estrutura de avaliação de riscos testada e comprovada, e não há garantia de que os aplicativos de fintech populares estejam preocupados com esses aspectos. O marketing irreverente dessas empresas na televisão brasileira e na Internet, usando Youtubers e figuras dos reality shows, não me ajuda a ter muita confiança.

Para terminar

Sem uma abordagem sistemática para definir e demonstrar o comportamento ético, a insistência em uma suposta superioridade prática das fintechs vai sair pela culatra. À medida que a adoção de fintechs continua a aumentar, haverá um número crescente de instâncias em que as fintechs falharão no teste da ética e da segurança operacional. Mesmo que a porcentagem dessas falhas seja menor entre as fintechs do que entre as instituições financeiras tradicionais, isso não ajudará a diminuir as percepções de alto risco associadas a elas.

As fintechs fariam um favor a si mesmas ao abandonar a perigosa superficialidade em seu marketing e a retórica vazia da “conveniência”, em favor da adoção de procedimentos operacionais e de supervisão ética de alto padrão, além de focar na resolução dos complexos problemas dos consumidores e clientes. Se elas estão à altura desses desafios logo saberemos.

PS: Este post se refere aos acontecimentos do momento nos mercado avançados. Essas tendências se refletem, às vezes com um pequeno atraso, nos mercados periféricos, como o Brasil, mas sempre se refletem. Lembro aos leitores que uma gripe lá acaba sendo uma pneumonia aqui.

Fontes adicionais:

https://www.forbes.com

https://www.weforum.org/

Bug nos Smart Contracts aciona um alerta jurídico

Na última quinta-feira [02/12] o blog “Schneier on Security” divulgou o caso [e deu início a uma discussão técnica] do hacker que roubou US $ 31 milhões da empresa de blockchain MonoX Finance, explorando um bug no software que o serviço usa para redigir contratos inteligentes.

Imagem: Pexels.com

Especificamente, o atacante usou o mesmo token tanto para o tokenIn quanto para o tokenOut, que são métodos para trocar o valor de um token por outro neste tipo de operação. Funciona mais ou menos assim: O MonoX atualiza os preços após cada troca, calculando novos preços para ambos os tokens [in e out]. Quando a troca é concluída, o preço do tokenIn, ou seja, o token que é enviado pelo usuário, diminui, e o preço do tokenOut, o token recebido pelo usuário, aumenta.

Ao usar o mesmo token para as diferentes operações de tokenIn e tokenOut, o hacker inflou muito o preço do token MONO porque a atualização do tokenOut sobrescreveu a atualização de preço do tokenIn. O hacker então trocou o token por $ 31 milhões em tokens nas blockchains Ethereum e Polygon.

O problema básico neste evento é que, na arquitetura da blockchain, o código é a autoridade final – não há um protocolo de adjudicação. Então, se houver uma vulnerabilidade no código, não há recurso possível [e, claro, existem muitas vulnerabilidades no código].

Para muito observadores, incluindo Bruce Schneier, essa é uma razão suficiente para não usar contratos inteligentes para algo importante, por enquanto.

Os sistemas de adjudicação baseados na intervenção humana não são uma inútil bagagem humana pré Internet. Eles são vitais.

Bruce Schneier

Código de programação versus arbitragem humana

Na modesta opinião deste bloguista, embora, de fato, estejamos muito longe de o código ser um árbitro da justiça melhor do que um ser humano, acho que o problema básico aqui tem menos a ver com o código sendo a autoridade final e mais a ver com a falta de um protocolo de adjudicação.

No momento, não há uma boa maneira de ajustar retrospectivamente os resultados desses chamados contratos “inteligentes” com base em conhecimentos ou fatos que só podem ser totalmente apreciados ex post ao invés de ex ante, seja o conhecimento de funcionalidades não intencionais do código ou circunstâncias específicas não antecipadas pelas partes contratantes.

Este parece ser um problema bem compreendido por profissionais do direito e um aspecto amplamente suportado por diversos sistemas jurídicos (por meio de várias doutrinas, como quebra de expectativa ou previsibilidade). Já os tecnologistas proponentes de contratos inteligentes [incluindo a mim] parecem não ter ainda uma visão clara desses aspectos.

Uma transferência legítima de acordo com as regras codificadas

Para além do ‘problema básico’ descrito acima, existe um outro problema não menos básico e que se não for tratado corretamente deixará os “Contratos Inteligentes” para sempre quebrados: a maioria dos programadores normalmente escreve código sequencial limitado, não código de máquina de estado completo. Assim, uma grande quantidade elementos computacionais é deixada de fora na implementação dos contratos. Esses elementos, portanto, ficam “pendurados” e esperando para ser usados [e abusados].

Alguns críticos da blockchain dos contratos inteligentes argumentam que seria necessário incorporar uma versão forte da chamada Lógica de Hoare para garantir a integridade da computação na blockchain. A lógica de Hoare é um conjunto fundamental de regras, publicadas no final dos anos 1960. O bloco fundamental da Lógica de Hoare é a Tripla de Hoare.

Uma tripla de Hoare é da forma

{P} C {Q}

Onde {P} e {Q} são afirmações sobre o estado do sistema e C é um comando.

P, é a pré-condição
Q, é a pós-condição

Onde as asserções P e Q são expressas como fórmulas na lógica de predicados.

Quando a pré-condição P é atendida, a execução do comando C causa mudanças no sistema e estabelece a pós-condição Q.

Embora seja possível construir um código de “estado completo” com a lógica de Hoare, não é algo que a maioria das pessoas goste de fazer. Em suma, é um processo tedioso, não criativo, e colocar os pingos nos i’s e cruzar os t’s podem ser tarefas incrivelmente tediosas. Portanto, raramente é implementada, o que acaba inevitavelmente trazendo problemas em um tempo futuro.

Na vida normal, a última coisa que alguém realmente deseja é ter contratos irrevogáveis. Então a arbitragem geralmente fica “embutida” informalmente nos contratos inteligentes, através de métodos ad hoc. Em princípio, não há razão para que os contratos inteligentes não possam ter arbitragem embutida. Mas isso apenas cria uma série de questões subsequentes que ninguém quer abordar.

Até que a arbitragem de fato ou o controle total do estado sejam implementados nos Smart Contracts, veremos muito mais desse tipo de coisa acontecendo.

Move fast, break things

Eu temo que o problema descrito aqui seja um resultado lógico da abordagem “mova-se rápido e quebre coisas” preconizadas pelo Manifesto Ágil. As pessoas precisam pensar com clareza sobre até onde [e se] podemos utilizar certos paradigmas de desenvolvimento de sistemas na construção da infraestrutura da blockchain.

E como eu disse em outros posts aqui, precisamos parar de chamar as coisas de “inteligentes” quando elas são estúpidas. Antigamente, um dispositivo que não era útil sem uma conexão de rede era apropriadamente chamado de terminal burro. O código é sempre vulnerável, e qualquer desenvolvedor que não entenda isso é um “stupid hire”.

Facebook Muda de Nome Rumo ao Metaverso

O Facebook costumava ser visto de forma positiva pelos usuários, pois conectava o mundo e aproximava as pessoas. Isso não é mais o caso. Tem havido escândalos após escândalos e os usuários agora associam o Facebook a todas as coisas negativas que o Facebook dizia combater.

Imagem: Pexels

Neste ponto da história, o Facebook não pode mais vencer a guerra para ganhar os corações e mentes das pessoas a respeito uma série de questões. Então, em vez disso, ele precisa construir “uma nova narrativa”. A empresa está, assim, abandonando o nome e a marca Facebook e se concentrando em uma nova visão em torno do chamado Metaverso.

Não importa se essa visão é possível ou não, ou se a realidade virtual (RV) vai ou não se tornar o próximo paradigma de interação social. O importante é que trata-se de um segmento novo e interessante para construir uma nova marca e Mark Zuckerberg não quer perder a oportunidade.

O metaverso em minha opinião, sempre foi um grande embaraço. O Second Life existe há 20 anos e ainda é uma novidade divertida. O que o Facebook quer é adicionar publicidade e conteúdos de marca e fazer um second-life mais caro devido aos requisitos de hardware de última geração [além de torná-lo mais lento, com uma interface mais difícil – porque é RV].

Ninguém descobriu ainda uma maneira de proporcionar uma boa experiência de usuário em sistemas de realidade virtual, e também nenhum “caso de uso matador”. Não acho que o Facebook seja particularmente capaz de lançar algo que possa competir com qualquer coisa que a Microsoft ou a Apple possam lançar. Todos os CEOs que compram essa ideia de metaverso só falam sobre o universo de possibilidades, mas sinto que a única possibilidade que estão eles perseguindo é construir um Wal-Mart na Times Square.

A maioria desses CEOs aponta com aprovação o execrável [filme] “Jogador 1” como exemplo de uma visão a ser realizada. Eu sinto muito, mas penso que um garoto excitado de 15 anos raspando os pêlos do corpo para ser mais aerodinâmico na RV, enquanto se envolve em extensos monólogos de autocongratulação sobre como ele é um cara legal por não sentir repulsa por sua namorada “rubenesca”, enquanto recita versos de Ghostbusters em uma série de vinhetas incoerentes do tipo “lembra disso?”, não é uma visão para o futuro.

É uma pena porque acho que há obviamente usos legítimos para a telepresença via RV. Ela pode ser a próxima fronteira da videochamada, o que parece estar de acordo com a missão declarada do Facebook de conectar o mundo. Mas, suspeito que na realidade tudo o que nós teremos será um videogame extremamente ruim em vez disso – será que eles também terão NFTs?.

Posso ver como pode ser frustrante administrar uma empresa cheia de esforços diferentes, alguns dos quais pretendem ser novidadeiros ou pelo menos representar uma mudança de direção. Mas, debalde todos os esforços, ainda assim não deixam de ser percebidos e lembrados como mais uma coisa azul.

Espero que essa jogada permita que Zuckerberg permaneça tecnologicamente relevante, ocupando o lugar ao qual seus dons pessoais o levaram, em vez de ficar atolado em questões sobre os padrões éticos [ou falta de] em suas plataformas usadas por adolescentes e crianças.

Idealmente, uma plataforma ética também poderia ser cultivada por meio de algum tipo de transferência de parte do poder tecnológico acumulado pelas Big Techs à comunidade, de alguma forma. Um dos maiores desafios para o futuro é, em minha opinião, permitir que tais sistemas éticos se desenvolvam de forma padronizada, mas de maneira diversa. Em um mundo ideal, cada nova comunidade ou grupo deve ter sua própria dinâmica psicológica e merece a oportunidade de existir sem ser arrastada para a mesmice da(s) plataforma(s) por um conjunto agressivo, irritado ou tóxico de usuários.

Sinceramente, me deprime que esse revival do termo metaverso esteja sendo levado a sério e que provavelmente irá grudar no vocabulário como o desprezível termo “nuvem” e, pior, que o desenvolvimento dessas tecnologias esteja sendo conduzido por uma empresa como o Facebook.

Pessoalmente não estou interessado na visão particular de Mark Zuckerberg sobre o metaverso. Em vez disso, tenho medo de quantos mais caminhos errados podemos tomar no modo como desenvolvemos nossa tecnologia da informação e a aplicamos na sociedade. A visão FOSS [Free Open-Source Software – software livre] da computação, em que o progresso do software é compartilhado e atua como um equalizador, e onde as pessoas controlam o comportamento do seu software é o que precisamos, e não um lixo novo e melhor de vigilância-vigilância-propaganda-usuário-hostil [Agora em 3D!]

Voltaremos ao tema, certamente.