Os Outros Já Tiveram Todas as Ideias

Nos fóruns de desenvolvedores e empreendedores que frequento, tem ficado muito comum ouvir coisas com mais ou menos o seguinte teor:

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Estou começando a desconfiar de quem diz que ainda existem inúmeros problemas para resolver neste mundo. Eu faço uma pesquisa rápida no Google para qualquer ideia que eu tenha e adivinhem? O nicho já está cheio de concorrentes no campo. Como iniciar uma startup hoje em dia? Sim, eu sei, é preciso se diferenciar. Sim, eu sei, é a execução que importa. Mas é desencorajador colocar as esperanças em um mercado que já está cheio de outros que começaram seu progresso quando eu era ainda um iniciante.

Como abordar essa exasperação?

Esse parece ser um familiar poço de desespero. Escritores são propensos a ansiedades semelhantes. “Tudo o que vale a pena dizer já foi dito. Mas, como ninguém estava ouvindo, é preciso dizer de novo” – assim escreveu André Gide. Curiosamente, Goethe já havia defendido o mesmo ponto um século antes. Jean de La Bruyère havia dito a mesma coisa no século XVII. Agostinho havia escrito mais ou menos a mesma coisa no final da Antiguidade. E o Eclesiastes havia vencido a todos séculos antes disso: “Não há nada de novo sob o sol”.

Eu também estou na corrida. Não tenho autoridade alguma para falar sobre o que leva uma startup ao sucesso – noto aqui que eu não sou muito fã do termo “startup”, que remete às panelinhas universitárias da elite econômica. Contudo, também tenho ideias originais, portanto sei em primeira pessoa que há ainda muito espaço para a inovação. Eu vejo que as tensões desencorajadoras não estão no espaço da criação, e nem na capacidade de realização. Estão em outros fatores, como capacidade de crédito, rede de relacionamentos, ambiente de negócios, etc. Meras externalidades.

Estou convencido também de que grande parte do problema se resume à uma questão de perspectiva: o que você procura é um segmento/categoria de mercado novo ou maduro? Segmentos de mercado recém inaugurados trazem muitas oportunidades, e há muitos deles ao redor. Nós desenvolvedores precisamos saber usar um novo mercado ao nosso favor.

Se eu realmente me atrevesse a dar um conselho, eu descreveria exatamente o que estou fazendo agora, e diria mova-se rapidamente começando nas áreas que seus concorrentes já validaram e aprenda a evitar os erros que eles cometeram no passado. Faça o possível para se diferenciar com base no feedback do seu mercado.

A concorrência é inevitável, mas pode ser aproveitada para aumentar seu aprendizado sobre o mercado e as necessidades do seu cliente, se souber como analisar sua estatística. Ela é positiva na medida em que é muito mais fácil ter várias empresas validando e/ou invalidando um novo espaço do que você fazer isso sozinho.

O ciclo de vendas para mercados novos e não comprovados geralmente é muito lento, pois eles exigem educação [exposição ao produto] e mudança de comportamento do consumidor. Então por que não deixar que os primeiros a adotar seu produto se encarreguem naturalmente disso antes de você conquistar uma participação significativa no mercado?

Unicórnios

Se você está tentando montar uma startup unicórnio este post não é para você [e apenas minha sôfrega imaginação te vê frequentando este blog].

Mas se você – como eu – quer ter um negócio real, ou alguma coisa própria, na internet, e acha que tem uma solução competitiva para algum problema – o sucesso obviamente será decorrente, então você e eu só precisamos fazer algo melhor do que o que já existe [e tratar de espalhar bem a novidade]. Onde as Big Techs são catedrais nós seremos bazares. Pense em uma feira onde servem os mesmos tipos de comida e como os chefs conseguem dar seu toque pessoal aos sabores, diferença que reflete na qualidade, clientela, e na atmosfera geral.

Há muitas maneiras de fazer algo melhor. Quase sempre é possível tornar um produto ou serviço de tecnologia melhor, com maior velocidade, com interface do usuário mais intuitiva, mais especializado para uma tarefa específica, e assim por diante.

Deve-se também ter em mente que o primeiro no mercado nem sempre é o mais bem-sucedido; muitas vezes é o segundo no mercado, ou mesmo o décimo, desde que o projeto deles tenha a melhor execução. O Facebook não era muito melhor do que o Myspace, e, embora as pessoas esqueçam, havia dezenas de outros sites que competiam pelo mesmo espaço naquela época. Tudo o que o Facebook fez melhor foi apresentar uma interface de usuário melhorada e segmentar um público específico (universitários, na época). A expansão para outros públicos veio depois.

Enfim, o resumo é que, mesmo que uma ideia tenha sido feita, será que ela foi feita de modo definitivo, do jeito que você quer, ou do jeito que o público quer? Quero acreditar que sempre há escolhas – especialmente quando não tentamos ser unicórnios.

Um produto Mínimo Viável não é mais suficiente

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No palavreado das startups, um produto mínimo viável (PMV), é um produto com recursos suficientes para atrair clientes pioneiros e validar uma ideia de produto ainda no início do ciclo de desenvolvimento.

O conceito de PMV desempenha um papel central no chamado desenvolvimento ágil. Em setores como software, o PMV é uma ferramenta valiosa para ajudar a equipe de desenvolvimento a receber feedback do usuário o mais rápido possível para iterar na melhora do produto.

O que é PMI?

Este é um conceito originário da metodologia Lean Development [desenvolvimento enxuto]. A abreviação vem do inglês Minimum Awesome Product, [Produto Mínimo Incrível – PMI]. “Incrível” aqui significa exatamente isso – um produto que os consumidores chamarão de incrível. Eles não esperam nada menos em 2022.

O PMI é uma evolução do PMV e uma forma de evitar que o produto mínimo viável seja muito “mínimo”. Hoje em dia, os usuários já são muito acostumados a uma “experiência” gráfica e não estão dispostos a explorar um site com Times New Roman preto sobre um fundo branco e um botão “Inscrever-se” – Embora haja quem vá ao outro extremo e carregue seu PMV com excesso de animações, imagens, vídeos e outros efeitos especiais extravagantes.

A principal distinção de um PMI quando comparado a um PMV é que o PMI tem um conjunto de recursos um pouco mais amplo, além de também levar em contar o design da interface e da experiência do usuário [UX]. O PMI usa os elementos que os usuários estão acostumados a encontrar em aplicativos do mesmo tipo. Um design de interface bem estruturado tende fazer o usuário acreditar que o aplicativo é mais eficaz do que um outro com um design mais despojado. Além disso, é preciso ter sempre em vista a maneira como seus concorrentes projetam seus produtos. O seu não deve parecer mais tosco em comparação.

De qualquer forma, é claro que um produto mínimo viável sempre deve aspirar ser um um produto mínimo incrível. O pressuposto de um PMV foi sempre a qualidade do conjunto de recursos e não qualidade final. Ele deve ter o conjunto mínimo de recursos necessários, mas construídos e projetados com o melhor padrão. Resumindo: se o seu negócio é vender pizza, o seu produto mínimo viável deve ser uma pizza que seja incrível.

Todo analista deveria fazer uma temporada em consultoria

Por Forrest Brazeal

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Não estou falando sobre me tornar um daqueles terceirizados que são chamados de “consultores” por suas empresas, mas que na realidade são apenas “contratados em série”. Refiro-me a uma verdadeira função de consultor, onde você seja pago para trazer experiência, dar conselhos e promover mudanças técnicas.

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Penso que existem várias maneiras diferentes de conseguir uma função como essa:

  • Abrir o próprio negócio, como consultor independente. Mas administrar seu próprio negócio envolve um conjunto de outras habilidades, como vendas e networking. Este post é focado principalmente em como a consultoria ajuda você a se tornar um melhor engenheiro de software, então não vou me fixar por muito tempo nesta opção.
  • Trabalhar para uma empresa de consultoria em uma função sênior. Dependendo do sua experiência específica, você pode achar mais fácil atingir esse objetivo em uma empresa gigante como a Deloitte ou Accenture, uma ‘boutique’ de especialistas como a Trek10, ou em algum lugar nesse espectro. Em qualquer caso, a opção “consultor de equipe” dá a você a experiência de consultoria em engenharia, mas elimina o desafio de gerenciar seu próprio esquema de vendas.
  • Trabalhar para uma empresa de tecnologia em uma função técnica voltada para o cliente: digamos, como engenheiro de pós-vendas ou arquiteto de soluções. Essa opção pode oferecer mais continuidade nos bastidores do que as outras duas, mas usa, fundamentalmente, o mesmo conjunto de habilidades.

Seja qual for a sua escolha, acredito que todo analista deve passar uma parte de sua carreira fazendo uma dessas três coisas. Trabalhar como consultor desbloqueia os ganhos de carreira que seriam difíceis, senão impossíveis, de obter como analista interno ou líder de engenharia.

Os Superpoderes do Consultor

  • Uma visão panorâmica da indústria

Depois de trabalhar com alguns clientes, você vai perceber que a maioria deles não é tão única e especial quanto eles pensam que são. Eles estão enfrentando um certo desconforto organizacional e tentando resgatar a sua dívida técnica, como todos os outros também estão. Você rapidamente começará a se tornar um “combinador de padrões” profissional, aplicando coisas que funcionaram na empresa X ao problema que você vê na empresa Y. É nesse caldo de cultura que nascem as “melhores práticas” em tecnologia.

Alguém já se referiu a esse processo de melhores práticas emergentes da consultoria como “lavagem de pensamento”, o que parece horrível, mas pode ser algo muito interessante. Com o tempo, você tem a oportunidade de construir um manual para o sucesso em sua disciplina que vai funcionar em 80% dos casos. A maioria das pessoas provavelmente não vai acreditar totalmente em suas ideias, mas você saberá que elas funcionam e exatamente o que está fazendo. Ninguém poderá tirar isso de você.

  • Trabalhar em projetos de alto impacto

Você não traz um consultor para dentro da sua empresa para ajudá-lo a manter as coisas como estão. Você o traz para ajudá-lo a impulsionar a mudança. Como consultor, seu trabalho não será manter um antigo servidor ActiveDirectory. Você terá que descobrir como migrar 2.000 pessoas para o Google Cloud.

Um bom trabalho de consultoria é um fluxo constante dos projetos mais interessantes do mercado, uma miscelânea de maneiras saborosas de aprimorar suas habilidades.

  • Realmente fazendo as coisas

Conheço o estereótipo de que consultores são charlatães que deixam as coisas em uma bagunça pior do que a que encontraram. Por outro lado, isso descreve muitas pessoas que trabalham internamente em qualquer empresa.

A diferença é que os consultores são contratados especificamente porque não têm lealdade a ninguém além do executivo que os contratou. Eles têm o poder de pular a política e apenas apontar o que precisa ser feito, mesmo que seja óbvio. Especialmente se for óbvio. Acontece que muitas das mudanças que as empresas precisam fazer – sejam técnicas ou de negócios – não exigem obscuros momentos eureka ou meses de descoberta. As pessoas inteligentes dentro da empresa provavelmente já estão cientes dos elefantes nas salas. O problema é que eles estão muito emaranhados na burocracia e nos processos falidos e não têm uma visão clara de para onde ir.

Se você tiver a oportunidade de trabalhar com uma consultoria que envolva o nível executivo, vai descobrir que consegue fazer mais em poucas semanas do que seus colegas internos poderiam fazer por conta da política da empresa.

  • Empatia com as necessidades do cliente

Quando você faz consultoria, não há filtros entre você e a eficácia de seu trabalho. Consultores que não cumprem o prometido não duram muito. Assim, você fica ‘expert’ em ouvir, documentar e mostrar o valor do seu trabalho. Você aprende a resolver problemas reais, não imaginários – porque é para isso que você é pago agora.

  • Melhoria do “tempo médio para competência” em novas habilidades

Você não está recebendo honorários de consultoria para aprender no trabalho; seu tempo de adaptação para qualquer nova tecnologia que você encontrar será extremamente rápido. Aprender como aprender se torna uma ferramenta mais importante do que qualquer linguagem ou estrutura. Com o tempo, isso significa que você se surpreenderá com a rapidez com que assimilará novas informações.

Eu disse uma temporada, não necessariamente uma carreira inteira

A consultoria tem desvantagens e elas se multiplicam quanto mais você permanece no campo. Mesmo assumindo a situação ideal, com uma equipe honesta e clientes legais, você começará a lidar com coisas como:

  • A rotatividade constante de projetos é fatigante

Quer dizer, novos projetos são empolgantes, mas em algum momento você simplesmente começa a querer trabalhar em algo familiar para variar um pouco.

  • Sem pele no jogo

Como consultor você será avaliado em um curto horizonte de tempo. Você entregará seus resultados, será pago e seguirá para o próximo show. Isso limita o escopo dos projetos de mudança com os quais você pode se envolver de forma significativa. Também o separa dos resultados comerciais de longo prazo de seu trabalho. A menos que você tenha relacionamentos excepcionalmente épicos com seus clientes, um dia você pode querer ser mais jogador do que treinador.

  • Ser um “especialista” profissional é perigoso para o seu crescimento

Policiais, políticos e consultores têm esta maldição em comum: eles são profissionalmente incentivados a evitar admitir que podem estar errados.

Quando você entra para trabalhar na estrutura digital de um cliente, não está lá para aprender, bagunçar, cometer erros e tentar novamente. Você está lá para saber mais do que o cliente, acertar na primeira vez e fazer o diretor parecer inteligente ao contratá-lo.

Sempre achei esse arranjo estressante e não particularmente honesto. Sou uma pessoa disciplinada, com formação e experiência; um cara que lê a documentação. Contudo, não gosto de ter que projetar um ar de competência que nem sempre sinto. Principalmente porque tenho medo de acabar me convencendo de que realmente sou um especialista e acabar me acomodando para sempre no ponto mais baixo da curva Dunning-Kruger.

Então, por que dar consultoria?

Para resumir tudo isso de forma simples: embora a consultoria seja estressante e tenha incentivos estranhos, também é um atalho para se tornar sênior muito rapidamente. É como comprimir dez anos de experiência em um quarto do tempo. Você vai começar a pensar sobre tecnologia em um contexto de negócios. Você vai construir sua rede. E quando você voltar para casa, você será o engenheiro viajado que todos procurarão para obter informações.

Tradução: Bravo Marques