Hey, Zuck, conserte o Facebook antes de fugir para o Metaverso (please?)

Os tediosos conflitos do Facebook. Não importa o assunto. Quaisquer que sejam eles, são de uma monotonia atroz. Com emojis – essa simbologia infantil de representação de um rosto genérico – e “compartilhamentos”, o Facebook [e seus semelhantes] nos reduziu ao que somos na essência – ou nos expôs em nossa nudez e nosso vazio, como sempre fomos.

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A erosão de nosso senso de nós mesmos como uma espécie evoluída e dotada de valores mais elevados tem sido constante. Falando apenas por mim – talvez eu esteja sozinho, mas duvido – o que os algoritmos conseguiram acima de tudo foi me tornar menos interessado nas pessoas. Minha opinião sobre considerar as pessoas como entidades dignas de interesse despencou.

Essa desilusão é um sentimento novo para mim: sempre fui o tipo de idiota que acha nossa espécie fascinante. Eu gosto de conversar com as pessoas e ouvir o que elas pensam – e, francamente, analisá-las. Gosto de tentar descobrir como elas raciocinam. Gosto de como suas histórias pessoais informam sua abordagem a um problema ou a alguma questão. Antes, eu tinha a ideia – talvez ingênua – de que se eu conversasse com alguém por tempo suficiente, poderia descobrir de onde elas vêm, o que as moldou e por que suas vidas as levaram para onde elas estão agora – e se seu esforço valeu a pena.

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Hoje em dia, tenho a impressão de que eu não preciso falar com alguém por mais que 20 minutos para saber tudo o que ele ou ela assiste ou consome e qual o alcance de sua vida cultural. Eu também seria capaz dar um palpite bastante decente sobre que outras coisas que ele ou ela provavelmente acredita. Tamanha simplificação da vida ocorrida nos últimos 15 anos parece indicar que o problema humano está resolvido e tem muito menos a ver com a história ou com a diversidade entre os indivíduos do que se suspeitava.

Essa afirmações podem parecer um exagero, eu reconheço, mas o sucesso que o Facebook teve até hoje demonstra que conhecer o intimo de uma pessoas não é muito difícil como parecia em um passado um pouco mais distante. Desvendar as pessoas é basicamente o que algoritmos fazem. Eles provaram que o panopticon é totalmente possível.

Mas nem o Facebook ou o YouTube se contentam em apenas conhecer as pessoas “para sua melhor conveniência”; eles ativamente segregam as pessoas em perfis, padrões e grupos. O resultado final, como sabemos agora, é catastrófico. Parece seguro dizer agora que os grupos constroem sua própria dinâmica e tornam as pessoas mais bajuladoras ao líder autoritário, ou chatas, ou furiosas. A expressão “Câmara de eco” nem chega perto de descrever o empobrecimento da experiência humana no ambiente do Facebook.

O Facebook diz valorizar a conexão entre as pessoas. Mas acontece que não há nada intrinsecamente bom na conexão online entre as pessoas. Na internet, a exposição a pessoas diferentes muitas vezes nos faz odiá-las, e esse ódio estrutura cada vez mais nossa política. A corrosão social causada pelo Facebook e outras plataformas não é um efeito colateral de más decisões de gerenciamento e design. É algo que está embutido na própria natureza da mídia social.

Há muitos motivos pelos quais o Facebook e as empresas de mídia social que vieram depois dele estão implicados no colapso democrático, na violência comunitária em todo o mundo e na guerra civil [ainda fria, mas que fica cada vez mais quente] em lugares como os Estados Unidos e mesmo o Brasil. Esses sistemas em redes centralizadas, com interação entre os membros mediadas fora da ordem cronológica, são motores de foguete para espalhar desinformação e combustível de jato para teorias da conspiração. Eles recompensam as pessoas por expressarem raiva e desprezo pelo “outro”, sequestrando e usando os mesmos circuitos mentais que injetam dopamina na circulação quando você ganha jogando caça-níqueis.

Foto por Eugene Capon em Pexels.com

Metaverso

Mesmo recentemente, até alguns anos atrás, havia ainda espaço para resistir a esse aspecto horrível da maleabilidade humana. Os experimentos de aprisionamento de Stanford haviam sido desmistificados e parecia que nossas piores noções a respeito da humanidade haviam desaparecido. “Todo mundo é um idiota online, mas as pessoas não são suas performances digitais”, alguém disse. Ou talvez as pessoas sejam mais complicadas do que parece.

Vou ser cuidadoso aqui e dizer que, claro, não é apenas o Facebook que trilha a senda da infâmia. Mas como sou um falível humano [embora fazer parte da humanidade tenha um quê de rebaixamento existencial no momento], vou recorrer à minha própria subjetividade [basicamente não algorítmica]: O Facebook é obviamente o pior ofensor entre todos – pelo menos quando se trata de manipular a lamentável previsibilidade dos afetos humanos.

Nas próximas semanas [e meses] espero ser capaz de absorver as implicações da mudança [do nome da holding co. da rede para Meta] para minha esfera pessoal, como também os efeitos de larga escala, desde a política até a democracia, passando pela saúde pública, à medida que mais fatos forem sendo conhecidos [ainda estou digerindo os Facebook Papers].

Eu adoraria prognosticar que a reformulação da marca visando ocupar o Metaverso será um fracasso e que os humanos enxergarão a verdade através da enorme cortina de relações públicas e propaganda. É deprimente que uma empresa que provou infligir tantos danos à sociedade tenha decidido não fazer uma mínima auto crítica sobre seu passado, não consertar nada e, de fato, expandir suas operações para usurpar ainda mais a vida das pessoas.

Eu gostaria de acreditar que o Metaverso não vai funcionar, e que o convite ridículo de Mark Zuckerberg para que as pessoas “se conectem nos espaços ilimitados da realidade virtual” – onde peixes nadam entre as árvores, e Lucy voa no céu com diamantes – não atrairá ninguém. Mas vamos encarar a verdade: antes de todos nós começarmos a usá-los, eu também achava que os rostinhos de emoji eram a suprema idiotia. Veja onde estamos agora… 🙂

* * *

Nota: Se este post for compartilhado no Facebook, o que é muito bem vindo [engajar com o adversário em seu próprio campo], claro que eu vou apreciar por demais a ironia. ká ká ká.

Facebook Muda de Nome Rumo ao Metaverso

O Facebook costumava ser visto de forma positiva pelos usuários, pois conectava o mundo e aproximava as pessoas. Isso não é mais o caso. Tem havido escândalos após escândalos e os usuários agora associam o Facebook a todas as coisas negativas que o Facebook dizia combater.

Imagem: Pexels

Neste ponto da história, o Facebook não pode mais vencer a guerra para ganhar os corações e mentes das pessoas a respeito uma série de questões. Então, em vez disso, ele precisa construir “uma nova narrativa”. A empresa está, assim, abandonando o nome e a marca Facebook e se concentrando em uma nova visão em torno do chamado Metaverso.

Não importa se essa visão é possível ou não, ou se a realidade virtual (RV) vai ou não se tornar o próximo paradigma de interação social. O importante é que trata-se de um segmento novo e interessante para construir uma nova marca e Mark Zuckerberg não quer perder a oportunidade.

O metaverso em minha opinião, sempre foi um grande embaraço. O Second Life existe há 20 anos e ainda é uma novidade divertida. O que o Facebook quer é adicionar publicidade e conteúdos de marca e fazer um second-life mais caro devido aos requisitos de hardware de última geração [além de torná-lo mais lento, com uma interface mais difícil – porque é RV].

Ninguém descobriu ainda uma maneira de proporcionar uma boa experiência de usuário em sistemas de realidade virtual, e também nenhum “caso de uso matador”. Não acho que o Facebook seja particularmente capaz de lançar algo que possa competir com qualquer coisa que a Microsoft ou a Apple possam lançar. Todos os CEOs que compram essa ideia de metaverso só falam sobre o universo de possibilidades, mas sinto que a única possibilidade que estão eles perseguindo é construir um Wal-Mart na Times Square.

A maioria desses CEOs aponta com aprovação o execrável [filme] “Jogador 1” como exemplo de uma visão a ser realizada. Eu sinto muito, mas penso que um garoto excitado de 15 anos raspando os pêlos do corpo para ser mais aerodinâmico na RV, enquanto se envolve em extensos monólogos de autocongratulação sobre como ele é um cara legal por não sentir repulsa por sua namorada “rubenesca”, enquanto recita versos de Ghostbusters em uma série de vinhetas incoerentes do tipo “lembra disso?”, não é uma visão para o futuro.

É uma pena porque acho que há obviamente usos legítimos para a telepresença via RV. Ela pode ser a próxima fronteira da videochamada, o que parece estar de acordo com a missão declarada do Facebook de conectar o mundo. Mas, suspeito que na realidade tudo o que nós teremos será um videogame extremamente ruim em vez disso – será que eles também terão NFTs?.

Posso ver como pode ser frustrante administrar uma empresa cheia de esforços diferentes, alguns dos quais pretendem ser novidadeiros ou pelo menos representar uma mudança de direção. Mas, debalde todos os esforços, ainda assim não deixam de ser percebidos e lembrados como mais uma coisa azul.

Espero que essa jogada permita que Zuckerberg permaneça tecnologicamente relevante, ocupando o lugar ao qual seus dons pessoais o levaram, em vez de ficar atolado em questões sobre os padrões éticos [ou falta de] em suas plataformas usadas por adolescentes e crianças.

Idealmente, uma plataforma ética também poderia ser cultivada por meio de algum tipo de transferência de parte do poder tecnológico acumulado pelas Big Techs à comunidade, de alguma forma. Um dos maiores desafios para o futuro é, em minha opinião, permitir que tais sistemas éticos se desenvolvam de forma padronizada, mas de maneira diversa. Em um mundo ideal, cada nova comunidade ou grupo deve ter sua própria dinâmica psicológica e merece a oportunidade de existir sem ser arrastada para a mesmice da(s) plataforma(s) por um conjunto agressivo, irritado ou tóxico de usuários.

Sinceramente, me deprime que esse revival do termo metaverso esteja sendo levado a sério e que provavelmente irá grudar no vocabulário como o desprezível termo “nuvem” e, pior, que o desenvolvimento dessas tecnologias esteja sendo conduzido por uma empresa como o Facebook.

Pessoalmente não estou interessado na visão particular de Mark Zuckerberg sobre o metaverso. Em vez disso, tenho medo de quantos mais caminhos errados podemos tomar no modo como desenvolvemos nossa tecnologia da informação e a aplicamos na sociedade. A visão FOSS [Free Open-Source Software – software livre] da computação, em que o progresso do software é compartilhado e atua como um equalizador, e onde as pessoas controlam o comportamento do seu software é o que precisamos, e não um lixo novo e melhor de vigilância-vigilância-propaganda-usuário-hostil [Agora em 3D!]

Voltaremos ao tema, certamente.

Sobre os Problemas com o Facebook & Cia

Um usuário [ramenporn], dizendo ser da equipe de recuperação de desastre do Facebook, postou esta nota no Reddit, hoje mais cedo:

Imagem: iStock

Como muitos de vocês sabem, o DNS para serviços FB foi afetado e isso é provavelmente um sintoma do problema real, que é o peering de BGP com roteadores do Facebook caiu, muito provavelmente devido a uma mudança de configuração que entrou em vigor pouco antes de as interrupções acontecerem (começaram por volta das 15h40 UTC). Há pessoas agora tentando obter acesso aos roteadores de peering para implementar correções, mas as pessoas com acesso físico estão sem contato com as pessoas que têm conhecimento de como realmente autenticar nos sistemas e das pessoas que sabem o que realmente fazer. Então agora há um desafio logístico para unificar todo esse conhecimento. Parte disso também se deve ao menor número de funcionários nos centros de dados devido às medidas contra a pandemia.

Portanto, o problema básico parece ser “BGP peering“, que é o pareamento entre os DNS dos serviços do Facebook, em explicação simples (ver Aspectos Técnicos, abaixo, para uma explicação mais técnica), além da distribuição física das equipes por muitos locais separados.

O post foi em seguida apagado, assim como diversas contas desse usuário em outros sites e canais.

Eu imagino que ele não foi autorizado a postar essas informações. Espero que ele não perca o emprego.

Do que o FB tem medo? Penso que desde que essas pessoas não estejam compartilhando informações internas/proprietárias da empresa, esse assunto não é particularmente sensível. Além disso, ter alguma transparência sobre o problema é bom para todos.

Quem gostaria de trabalhar para uma empresa que pode tomar medidas disciplinares drásticas porque um engenheiro postou um comentário no Reddit basicamente para dizer “BGP’s down lol” – Se eu estivesse no comando, daria a ele um modesto bônus, por ajudar a alcançar de forma direta o usuário e a comunidade em geral.

Por outro lado…

Compartilhar o status de um evento em andamento pode complicar a recuperação. Tais relatórios públicos em tempo real podem atrapalhar o fluxo de informação entre as equipes.

Conclusão

Tenho certeza de que acionistas e outros líderes de negócios da empresa ficarão muito mais confortáveis em relatar isso como uma série de falhas técnicas infelizes (que alegarão fazer parte do negócio), em vez de uma falha organizacional de toda a empresa. O fato de não poderem identificar fisicamente as pessoas que conhecem a configuração do roteador mostra uma organização que ainda não pensou em todos os seus modos de falha. Muita gente não vai gostar disso. Não é incomum ter técnicos de datacenter com acesso ao sistema e o pessoal de software real sendo barrado. Contudo, sendo esse o motivo pelo qual um dos serviços mais populares do mundo está desativado por quase 5 horas agora, levantará muitos questionamentos..

Pessoalmente eu também espero que isso não prejudique as perspectivas de aumento no trabalho remoto. Se eles tiverem problemas em colocar na sala de comando alguém que conheça a configuração, porque todos moram a uma viagem de avião dos datacenters, eu posso ver no futuro próximo gerentes de muitos ramos de atividade relutando em ter uma equipe completamente remota.

Fica a lição para os empreendedores, que ficaram reféns de um serviço sobre o qual eles não têm controle. Eu nunca perco a oportunidade de salientar o quanto é importante controlar seus próprios dados e os dados de sua empresa. Faça um site dedicado ao seu negócio em seu próprio domínio. Fale com seus clientes e parceiros através de blogs como este. Consulte uma empresa de sistemas [como a Vox Leone] para ver onde seu negócio pode melhorar. O custo-benefício é altamente compensador. Nunca se esqueça que a tal “nuvem” é apenas o computador de outra pessoa. Use as redes sociais apenas para o que elas foram criadas: falar com papai, mamãe e titia.

Aspectos Técnicos: Sobre o BGP

Como reportou ramenporn, no centro deste apagão está a tecnologia Border Gateway Protocol (BGP), que é o serviço postal da Internet. Quando alguém coloca uma carta no correio, o serviço postal processa a correspondência e escolhe um caminho rápido e eficiente para entregar a carta ao destinatário. Da mesma forma, quando alguém envia dados pela Internet, o BGP é responsável por examinar todos os caminhos disponíveis que os dados podem percorrer e escolher a melhor rota, o que geralmente significa pular entre sistemas autônomos.

BGP é o protocolo que faz a Internet funcionar. Ele faz isso habilitando o roteamento de dados. Quando um usuário em Cingapura acessa um site hospedado na Argentina, o BGP é o protocolo que permite que a comunicação aconteça de forma rápida e eficiente.


Abaixo um traceroute do meio da tarde, mostrando os serviços Facebook em downtime

> traceroute a.ns.facebook.com
      traceroute to a.ns.facebook.com (129.134.30.12), 30 hops max, 60 byte packets
      1  service.local.net (192.168.1.254)  0.484 ms  0.474 ms  0.422 ms
      2  107-131-124-1.lightspeed.sntcca.sbcglobal.net (107.131.124.1)  1.592 ms  1.657 ms  1.607 ms 
      3  71.148.149.196 (71.148.149.196)  1.676 ms  1.697 ms  1.705 ms
      4  12.242.105.110 (12.242.105.110)  11.446 ms  11.482 ms  11.328 ms
      5  12.122.163.34 (12.122.163.34)  7.641 ms  7.668 ms  11.438 ms
      6  cr83.sj2ca.ip.att.net (12.122.158.9)  4.025 ms  3.368 ms  3.394 ms
      7  * * *
      ...

Facebookland: uma Nação Hostil

Em 1947, Albert Einstein, escrevendo na The Atlantic, propôs a criação de um governo mundial único para proteger a humanidade da ameaça da bomba atômica. Sua ideia utópica não se realizou, obviamente, mas hoje, um outro visionário tenta construir um simulacro de cosmocracia.

Imagem: Pexels

Mark Zuckerberg, ao contrário de Einstein, não inventou o Facebook por um senso de dever moral ou zelo pela paz mundial. Neste verão setentrional, a população do regime supranacional de Zuckerberg atingiu 2.9 bilhões de usuários ativos mensais, mais seres humanos do que nas duas nações mais populosas do mundo – China e Índia – juntas.

Para Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook, eles são cidadãos da Facebookland. Já há muito tempo, ele começou a chamá-los de “pessoas” em vez de “usuários”, embora eles não deixem de ser “cogs” em uma imensa “matrix” social, pedaços carnosos de dados para satisfazer o apetite dos anunciantes, que despejaram US$ 54 bilhões no Facebook apenas no primeiro semestre de 2021 – uma soma que supera o produto interno bruto da maioria das nações da Terra.

O PIB é uma comparação reveladora, não apenas porque aponta para o poder extraordinário do Facebook, mas porque nos ajuda a ver o Facebook como ele realmente é. O Facebook não é apenas um site, ou uma plataforma, ou um editor, ou uma rede social, ou um diretório online, ou uma empresa, ou um utilitário. Ele é todas essas coisas. O Facebook também é, efetivamente, uma potência estrangeira hostil.

Isso é fácil de ver por seu foco estreito em sua própria expansão; sua imunidade a qualquer senso de obrigação cívica; seu histórico de facilitar o enfraquecimento de eleições; sua antipatia pela imprensa livre; a insensibilidade e arrogância de seus executivos; e sua indiferença à resistência da democracia.

Alguns dos maiores críticos do Facebook pressionam por regulamentação antitruste e pela auditoria de suas aquisições – qualquer coisa que possa desacelerar seu poder crescente. Mas se você pensar no Facebook como um estado-nação – uma entidade engajada em uma guerra fria com os Estados Unidos e outras democracias – você verá que ele requer uma postura de defesa civil além da regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários.

Hillary Clinton disse no ano passado que sempre sentiu um cheiro de autoritarismo em Zuckerberg. “Sinto que às vezes você está negociando com uma potência estrangeira”, disse ela. “Ele é imensamente poderoso.” Um de seus primeiros mantras no Facebook, de acordo com Sheera Frenkel e Cecilia Kang em seu livro, An Ugly Truth: Inside Facebook’s Battle for Domination, era “a empresa acima do país”. Quando essa empresa tem todo o poder de um país, a frase ganha um significado mais sombrio.

Os componentes básicos da nacionalidade são mais ou menos assim: você precisa de terra, moeda, uma filosofia de governança e pessoas. Quando você é um imperialista no metaverso, não precisa se preocupar tanto com a dimensão física – embora Zuckerberg possua 1.300 acres em Kauai, uma das ilhas menos povoadas do Havaí. Quanto ao restante dos componentes da lista, o Facebook tem todos.

O Facebook está desenvolvendo seu próprio dinheiro, um sistema de pagamento baseado em blockchain conhecido como Diem (antigo Libra) que os reguladores financeiros e os bancos temem que possa vir a derrubar a economia global e dizimar o dólar.

Os reguladores estão de olho no Facebook por um bom motivo, mas a ameaça que a empresa representa é muito mais do que seu monopólio de tecnologia emergente. A ascensão do Facebook é parte de um movimento autocrático maior, que está corroendo a democracia em todo o mundo, à medida que líderes autoritários definem um novo tom para a governança global.

Considere como o Facebook refere-se a si mesmo como um contrapeso a uma superpotência como a China. Os executivos da empresa alertaram que as tentativas de interferir no crescimento desenfreado do Facebook – por meio da regulamentação da moeda que ele está desenvolvendo, por exemplo – seriam um presente para a China, que quer que sua própria criptomoeda seja dominante. Em outras palavras, o Facebook está competindo com a China da mesma forma que uma nação faria.

Seria possível reunir um número suficiente de pessoas para derrubar esse império? Provavelmente não. Mesmo que o Facebook perdesse 1 bilhão de usuários, sobrariam mais 2 bilhões. Mas precisamos reconhecer o perigo que corremos. Precisamos nos livrar da noção de que o Facebook é uma empresa normal ou de que sua hegemonia é inevitável.

Talvez um dia o mundo se una como um só, em paz – como sonhou Einstein, indivisível pelas forças que lançaram guerras e desmoronaram civilizações desde a antiguidade. Mas se isso acontecer, se conseguirmos nos salvar, certamente não será graças ao Facebook. Será apesar dele.

Em profundidade na The Atlantic

Facebook Pede Que Usuários do iOS Permitam Rastreamento (para permanecer grátis)

Em uma tentativa de combater o novo recurso de privacidade App Tracking Transparency da Apple, o Facebook está insistindo para que os usuários continuem a permitir que o gigante da tecnologia rastreie o uso do aplicativo, alertando que essa é a única maneira de manter os serviços “gratuitos”.

O site MacRumors dá conta de que o Facebook e o Instagram começaram a enviar mensagens notificando usuários do iOS 14.5 de que eles devem obrigatoriamente ativar o rastreamento no dispositivo, se quiserem ajudar a manter o Facebook e o Instagram “gratuitos”.

A Apple lançou recentemente seu novo recurso de privacidade, a ATT – App Tracking Transparency [Transparência no Rastreamento de Applicativo], como parte da atualização mais recente do iOS 14.5 para iPhones e iPads. A atualização agora exigirá que os aplicativos mostrem aos usuários um prompt solicitando seu consentimento para rastreá-los em outros aplicativos e sites.

Uma grande parte do modelo de negócios do Facebook é baseada na venda de anúncios em seus aplicativos e serviços. Os clientes pagantes podem usar as ferramentas de publicidade fornecidas pelo Facebook para alcançar pessoas ou obter dados demográficos específicos. No entanto, com o lançamento do iOS 14.5, os usuários podem optar por cancelar o rastreamento de suas atividades. Consequentemente, o Facebook terá acesso a menos dados para usar na segmentação de seus anúncios personalizados.

A atualização do iOS foi lançada ao público na semana passada e, desde então, mais aplicativos estão começando a exibir o prompt da ATT aos usuários. Um usuário do Twitter, Ashkan Soltani, foi o primeiro a observar que o Facebook atualizou seu prompt para incluir um aviso dizendo “Ajude a manter o Facebook gratuito”. Isso muda radicalmente a posição clássica do Facebook (“sempre será gratuito”). Muitos observadores na Internet vêem o movimento como uma “tática do medo” por parte da rede social. Ao mesmo tempo, fornece uma indicação indireta de que a política de privacidade da Apple é de fato a mais robusta do mercado, já que incomoda tanto o conglomerado de Zuckerberg.

Em uma postagem de blog atualizada recentemente, o Facebook chama o prompt de “tela educacional” que “ajudará as pessoas a tomar uma decisão informada sobre como suas informações são usadas”. O Instagram, que é propriedade do Facebook, também mostrará um aviso semelhante aos usuários.

A postagem do blog do Facebook diz:

Como a Apple afirmou que é permitido fornecer contexto adicional [aos usuários], mostraremos uma tela educacional antes de apresentar a solicitação da Apple, para ajudar as pessoas a tomar uma decisão informada sobre como suas informações serão usadas. Essa tela fornece detalhes adicionais sobre como usamos os dados para anúncios personalizados, bem como as maneiras como limitamos o uso de atividades que outros aplicativos e sites nos enviam se as pessoas não ativarem esta configuração do dispositivo. Nossa tela também permite que as pessoas saibam que estão vendo o prompt da Apple devido aos requisitos da Apple para iOS 14.5.

O Facebook planeja lançar o prompt com a notificação para mais usuários nos próximos dias e semanas.