O Efeito Trump: O ‘Surto’ do Bitcoin e a Nova Era das Criptomoedas

Com a eleição americana já decidida, o Bitcoin volta a ocupar o centro das atenções, impulsionado por uma onda de entusiasmo que fez seu valor se aproximar dos US$ 100.000 por unidade.

Boné vermelho com os dizeres 'make bitcoin great again'
Imagem modificada por AI

Até mesmo os críticos mais ferrenhos das criptomoedas — como eu, que há tempos alerto sobre seus riscos — precisam reconhecer que o cenário mudou drasticamente. Sob a presidência de Donald Trump, antes cético e agora um defensor das moedas digitais, o ambiente está preparado para uma nova rodada de alta nas criptomoedas.

Os fatores que impulsionam esse movimento são, em grande parte, políticos e baseados em um crescente hype, em vez de uma mudança fundamental no valor das criptomoedas. Afinal, a realidade permanece: essas moedas digitais têm pouco valor intrínseco. O Bitcoin e suas contrapartes digitais não oferecem um produto ou serviço tangível. Mesmo assim, estão se tornando rapidamente uma referência no sistema financeiro global, principalmente devido a um afrouxamento na regulação e ao apoio de um número crescente de influenciadores nas mídias sociais.

Essa transformação deve-se em grande parte à abordagem de Trump em relação à regulação. Espera-se que seu governo reduza consideravelmente a supervisão sobre as criptomoedas, criando um ambiente mais favorável ao crescimento desse mercado. A perspectiva de um cenário regulatório mais flexível deve incentivar os apoiadores da indústria, permitindo um novo ciclo especulativo que remonta ao espírito do Velho Oeste nos mercados financeiros.

Apesar de anos de promessas e hype, as criptomoedas ainda carecem de usos práticos no cotidiano. Defensores das moedas digitais podem argumentar que elas servem como proteção contra a inflação, reserva de valor ou uma alternativa melhor para remessas internacionais, mas nenhuma dessas afirmações foi realmente comprovada. Como um observador comentou de forma direta: “Ninguém encontrou um uso real para o Bitcoin além de possuir Bitcoin.”

No entanto, há áreas em que as criptomoedas, especialmente o Bitcoin, têm um valor claro: transações financeiras ilícitas. Seja para atividades criminosas, terrorismo ou lavagem de dinheiro, o Bitcoin tem se mostrado uma ferramenta eficaz. Um exemplo notório disso é o uso crescente de criptomoedas por investidores chineses, que buscam contornar as restrições do governo para a movimentação de capitais para o exterior. Embora as implicações legais e éticas sejam complexas, é inegável que as criptomoedas se firmaram como uma ferramenta nesse tipo de transação.

Nos Estados Unidos, a negociação de criptomoedas tem sido dificultada por entraves regulatórios, especialmente sob a liderança de Gary Gensler na Securities and Exchange Commission (SEC). Gensler se opôs veementemente ao setor, tratando muitas das ofertas de criptomoedas como valores mobiliários não registrados. Com a volta de Trump, esse cenário pode mudar. Sob uma nova gestão da SEC, as criptomoedas poderiam ser tratadas mais como commodities — como o ouro ou a soja — do que como ações ou títulos. Os reguladores de commodities tendem a se concentrar mais em fraudes do que na proteção ao investidor, o que daria aos emissores de criptomoedas uma liberdade maior.

Mudança nas diretrizes

A mudança de postura de Trump em relação às criptomoedas parece ser movida por uma razão clara: dinheiro. Somente este ano, os entusiastas das criptomoedas investiram mais de US$ 135 milhões em apoio a candidatos que defendem políticas favoráveis a esses ativos digitais. Trump também entrou no jogo, lançando o World Liberty Financial, uma nova iniciativa voltada para o mercado de criptomoedas, embora ainda não tenha alcançado seus objetivos de arrecadação. Além disso, Trump se cercou de figuras de destaque do setor, como Howard Lutnick, presidente da Cantor Fitzgerald, que agora deve comandar o Departamento de Comércio.

Entre as propostas mais curiosas que Trump e seus aliados defenderam está a criação de uma reserva estratégica de Bitcoin — uma ideia absurda que sugere que os Estados Unidos deveriam acumular um ativo de valor questionável. No entanto, é interessante notar que o governo dos EUA já possui uma quantidade significativa de Bitcoin, principalmente apreendido em casos criminais.

Essa confluência de influência política e apoio financeiro resultou no que podemos chamar de um “impacto Trump” nas criptomoedas. O Bitcoin subiu de cerca de US$ 40.000 no início do ano para quase US$ 94.000 atualmente. As ações da Coinbase, maior bolsa de criptomoedas, também tiveram um aumento de quase 44%. Caso a administração de Trump consiga reduzir a supervisão regulatória, a demanda por criptomoedas deve crescer ainda mais.

Porém, não nos deixemos enganar: essa alta não significa que as criptomoedas se tornaram mais seguras. Na realidade, com a redução das barreiras regulatórias, esses ativos digitais provavelmente se tornarão ainda mais voláteis. Os mercados de criptomoedas são conhecidos por suas flutuações de preço, que são impulsionadas mais pela especulação e pela emoção do que por fundamentos sólidos. Essa volatilidade é um reflexo de uma tendência maior no mundo dos investimentos modernos, onde a psicologia do mercado muitas vezes dita os preços dos ativos.

Warren Buffett, em sua carta anual, lamentou recentemente que o mercado de investimentos tenha se tornado cada vez mais “semelhante a um cassino”. E as criptomoedas são talvez o exemplo mais claro dessa realidade. Com menos proteção regulatória, esse “cassino” atrairá ainda mais especuladores, e, no segundo mandato de Trump, a indústria de criptomoedas será uma das principais promotoras desse frenesi.

A nova era das criptomoedas — movida por ambição política e especulação desenfreada — chegou. Se ela se consolidará como um mercado sustentável ou se tornará um grande alerta, o tempo dirá. O certo é que, sob Trump, o Bitcoin se prepara para um futuro tudo, menos previsível.

The Merge: A Fusão do Ethereum Está Concluída

A atualização histórica deixa de lado os mineradores – que antes conduziam a Blockchain – e faz promessas de enormes benefícios ambientais.

Imagem: Pexels.com

Os leitores do blog já estão a par dos acontecimentos há mais de dois meses. Um atestado do meu compromisso de trazer os fatos realmente importantes da tecnologia mundial para o espaço da língua portuguesa, colhidos diretamente dos insiders.

Aqui está nosso artigo de 8 de julho, em que explico tudo com meu estilo peculiar de quem respeita a inteligência do leitor. O material ainda está quente, e totalmente atual, implorando para ser lido. Se gostar, por favor compartilhe em outras mídias – e fale bem de mim (pretty please).

São quase 16:00 e vejo que os próprios canais brasileiros especializados em criptomoedas estão dormindo no ponto e levando banho de nosso aguerrido blog. Será que se desencantaram?


Nos últimos dias tenho me ausentado da edição de material e me concentrado na divulgação. São mais de 160 artigos em cerca de um ano e meio – quase 200.000 palavras! Para mim seria uma lástima ver esse esforço tremendo desperdiçado.

O grande problema na divulgação deste blog é que sou um crítico do modelo atual das redes sociais, e portanto, por uma questão de coerência, não possuo conta no Facebook, e nem Instagram – na verdade possuo, mas estão desativadas há anos. Não preciso dizer o quanto isso é ruim para a audiência. Conto apenas com os leitores do WordPress — que, graças sejam dadas, aumentam em número de forma suave e constante — e com o boca a boca de quem gosta deste espaço.

    Para ser totalmente honesto, devo dizer que, para esse esforço de divulgação, reativei uma antiga conta no Twitter onde, neste momento, sigo quatro pessoas e sou seguido por duas! Fiz também uma conta no Reddit, onde meu karma ainda é ZERO. É o máximo de rede social que consigo suportar [e controlar]. Criei o sub r/StableDiffusionBR, mas não posso postar enquanto meu karma for zero.

    Tenho pedido aos amigos IRL para compartilhar os posts do blog, e tenho tido resultados mistos com a estratégia. Aproveito para agradecer a todos os amigos que pacientemente recebem meus disparos e dão feedback sobre meu trabalho, mesmo não gostando do assunto. Prometo parar de importunar, assim que o meu Break-even for alcançado. :) Se precisar investir no impulsionamento, assim farei, porque este site também é parte integral de minha esfera profissional.

    Tenho trabalhado bastante e acredito em alcançar o objetivo de ajudar a formar – e participar de – uma massa crítica da tecnologia no universo da lusofonia.

    Obrigado por nos prestigiar. Desejo sucesso a você também, amiga e amigo bloguista. Sempre avante!

    Só no Brasil: O Primeiro Território Não-fungível do Mundo

    Um projeto chamado Nemus Earth surgiu em março, oferecendo a venda de um NFT Ethereum para quem quiser se tornar um “Guardião” da floresta amazônica brasileira.

    Imagem: Pexels.com

    Eu detesto dar moral para estelionatários internéticos, mas aqui está o link. O projeto tem planos grandiosos para criar um “cinturão de proteção” na Amazônia brasileira para concentrar os esforços de combate ao desmatamento. O material de divulgação do projeto se esforça para explicar que “a atividade econômica é necessária” na terra que eles vão comprar e traça um plano para empregar os indígenas da área na extração da castanha-do-pará em uma plantação abandonada — que o projeto pretende “revitalizar”.

    Os autores descrevem a “cooperação” com a população local, que irá “desbloquear a riqueza geracional para essas comunidades”, embora não haja nenhum plano concreto para que essas pessoas realmente se juntem à comunidade de “Guardiões” ou encaminhem alguma opinião sobre a governança do projeto.

    Outras atividades econômicas planejadas pelo projeto envolvem “silvicultura sustentável”, “capacitação das autoridades policiais locais”, atividades envolvendo drones e, claro, geração de compensações de carbono para outros projetos.

    Poluir para proteger

    O prospecto da entidade informa que a iniciativa será implementada na blockchain Ethereum. O projeto, cujo objetivo declarado é a conservação ambiental, aparentemente decidiu esconder dos potenciais guardiões o enorme consumo de energia, emissões de poluentes e resíduos eletrônicos decorrentes do processamento de qualquer blockchain, incluindo a do Ethereum.

    O projeto abriu sua segunda rodada de “cunhagem” em 3 de março e está oferecendo seus NFTs por preços entre 0,06 ETH e 19,44 ETH (US$ 150 a US$ 50.000).

    Em 20 de julho, eles emitiram um comunicado à imprensa alegando que “o primeiro território não fungível do mundo foi oficialmente nomeado por indígenas no Brasil em conjunto com a Nemus” [nota de VL: tsc, tsc, tsc]. A empresa afirma possuir 41.000 hectares de terra na Amazônia.

    Entra a Cavalaria

    Em 25 de julho, o Ministério Público Federal (MPF) divulgou um comunicado dando conta que havia exigido da Nemus comprovação de propriedade das áreas que reivindica, esclarecimentos sobre os projetos on-line que prometeram realizar e a comprovação de que receberam autorização da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) ou de qualquer outro órgão público que lhes permita atuar na área e se engajar com os diversos grupos indígenas.

    De acordo com o MPF, integrantes de grupos indígenas da região denunciam que a empresa violou seus direitos. Eles também relataram que a Nemus havia manifestado planos de usar máquinas pesadas para abrir uma pista de pouso e construir uma estrada para acessar os castanhais da região.

    As lideranças dos Apurinã alegaram que os representantes da empresa pressionaram os indígenas – que não lêem bem – a assinar os documentos (dos quais não forneceram cópias).

    http://www.mpf.mp.br/am/sala-de-imprensa/noticias-am/mpf-aciona-empresa-que-vende-ativos-digitais-nfts-de-areas-da-amazonia

    Essa empresa não é a única a se aventurar na hiléia. Outras, como SuperWorld, Moss, etc., estão trabalhando a todo vapor para vir buscar sua fatia nesse comércio. Assim, a farra dos NFT’s encontra o caos administrativo da Amazônia. O que poderia dar errado?

    Post Scriptum

    Ao escrever este post eu descubro, com tristeza mas não surpresa, que não há na Internet em português nenhum tópico (semi) autoritativo que seja [ex: Wikipédia] que contemple o termo hiléia [aqui um link relacionado ao tema]. Isso é inaceitável no maior país Amazônico e suposto líder mundial da biodiversidade. O que duzentos milhões de brasileiros fazem o dia todo? Será que alguém poderia dar um tempo no Facebook para fazer um mísero texto sobre a Amazônia? Eu já tenho meu tempo ocupado aqui com os problemas da computação, segurança e privacidade, e não posso fazer tudo, ok? Me ajude aí!

    Outro problema típico – e recorrente – da incúria [ou da proverbial preguiça] do Patropi é o total desleixo com a administração de muitos sites dos vários níveis de governo. O site governamental que vinculei neste texto, nada menos que o site do Ministério Público Federal, está com o certificado de segurança vencido. Cuidado ao visitar [ou simplesmente não visite]. Assim realmente não dá!

    Ps do Ps

    Para terminar em alto astral, informo aos leitores que estou produzindo um conteúdo muito bom – e um tanto longo – sobre a Libra Esterlina, que pretendo publicar na semana que entra. O post vai trazer um infográfico inédito que concebemos para facilitar o entendimento de quais e como eram as denominações e frações da Libra antes da decimalização, em 1971. Ele é o resultado de minhas pesquisas para desenvolver um módulo universal de conversão de moedas.

    Fiquei muito satisfeito com o trabalho – do qual não encontrei equivalentes na Internet – e estou ansioso para publicá-lo. Será muito interessante para os anglófilos, estudantes e curiosos em geral [inclusive os ingleses, que poderão se perguntar porque nunca houve um material visual oficial para explicar a Sterling aos povos bárbaros]. Com esse material poderá vir o tão esperado salto de audiência para este blog. Fingers crossed.

    https://twitter.com/VoxLeone

    The Merge: A Esperada Fusão do Ethereum se Aproxima

    Em breve, a rede principal da blockchain Ethereum se fundirá com o sistema Beacon Chain. Neste post discutimos brevemente os principais aspectos da operação e das tecnologias envolvidas.

    Imagem: Pexels

    O evento marcará o abandono – no âmbito do Ethereum – do sistema de validação de transações baseado no método da “prova de trabalho” [proof-of-work, usado pelo Bitcoin] e a transição completa para uma nova abordagem chamada de “prova de participação” [proof-of-stake – ver abaixo]. A data para o acontecimento havia sido definida vagamente como o segundo trimestre de 2022. Alguns canais da Internet especulam que será em agosto. Não sei até que ponto a atual crise nas criptos interfere no cronograma.

    Essa movimentação prepara o cenário para futuros melhoramentos de escala nessa rede, incluindo a adoção da tecnologia ‘sharding’ [ver notas, no final], que vai trazer inovações ao processo de validação. A fusão, também conhecida como “The Merge”, pretende reduzir o consumo de energia do Ethereum em ~99,00%.

    The Merge – o que é

    “The Merge” é um “upgrade” na rede Ethereum, que vai substituir o atual mecanismo de consenso baseado na “prova de trabalho” (PdT) por um mecanismo de consenso chamado de “prova de participação” (PdP), mais sustentável, eficiente e seguro. A partir da fusão, todos os blocos no Ethereum serão produzidos via PdP. A PdP já está ativa na rede Ethereum e passou por seu primeiro hard fork em outubro de 2021.

    Discussão

    Ethereum em seu estado atual usa o método da prova de trabalho para garantir o consenso entre os milhares de chamados “nós” na rede. A PdT é confiável e segura, mas consome muita energia. Para produzir cada bloco na rede, o processo envolve calcular códigos alfanuméricos válidos – chamados hashes – para verificar as transações e adicionar o próximo bloco ao blockchain. Para isso os participantes precisam usar equipamento com unidades de processamento [GPUs] poderosas e famintas de energia.

    A prova de participação, por outro lado, pretende garantir a segurança da rede de uma maneira diferente: o validador precisa provar é um participante [daí o nome], um stakeholder, com claro interesse no bom andamento das transações da rede.

    Essa prova do interesse na participação consiste no depósito de 32 ETH – uma quantia considerável. Qualquer pessoa pode fazer esse depósito e se tornar um nó validador – um nó que participa do algoritmo de consenso da rede.

    Se você depositar mais de 32 ETH, você receberá vários “slots validadores”. A recompensa pelo status de validador é uma comissão das taxas de transação validadas em seus slots. Os requisitos de hardware aumentam quanto mais você participar como validador.

    O protocolo determina que 2/3 de todos os validadores ativos assinem a finalização de um bloco. Se um agente malicioso tentar adulterar o protocolo usando um grande número de validadores para reverter um bloco finalizado, seus fundos sofrerão cortes – o que significa que perdem parte de, ou todo, o ETH depositado previamente. Isso torna os ataques extremamente caros e, portanto, improváveis.

    A PdP não requer o mesmo hardware poderoso, de uso intensivo de energia que a PdT. Qualquer hardware relativamente recente deverá ser capaz de executar o software necessário para operar um nó de participação de 32 ETH.

    Comparando os dois métodos

    A PdP busca uma maior resistência à centralização e à censura. PdT e PdP são bastante semelhantes. Ambas são sistemas que não dependem de confiança [trustless], onde qualquer pessoa pode participar. Ambos os processos se baseiam no fato de que se torna exponencialmente difícil atacar a blockchain à medida que mais blocos são adicionados; é dispendioso ser um validador. O impacto que você tem na rede e, portanto, as recompensas que você pode ganhar, são proporcionais à quantidade de recursos econômicos que você coloca (hardware de computador e eletricidade no caso da PdT – moedas em PdP). No entanto, existem diferenças importantes entre os dois métodos.

    Gráfico: Vox Leone

    Para minerar em uma rede PdT, é preciso investir em hardware especializado, ter acesso a uma fonte de energia barata e confiável e ter um nível substancial de habilidade técnica para administrar e manter sua “fazenda de mineração”. É possível minerar em pequena escala, mas as peculiaridades das leis econômicas tornam difícil competir com fazendas de mineração maiores e mais ricas.

    A prova de participação parece ser mais amigável para os participantes menores da blockchain. Para participar como validador e começar a apostar, é preciso depositar 32 ETH (é possível com menos, mas foge ao escopo deste post). O equipamento necessário para se tornar um nó e participar do consenso de PdP pode ser qualquer hardware de consumo razoavelmente moderno.

    A prova de participação e o consumo de energia

    Na prova de trabalho, quem resolver o bloco primeiro recebe a recompensa. Ou seja, a PdT é uma “corrida armamentista”. Se você tiver mais capacidade de computação [taxa de hash] do que seus concorrentes, é mais provável que você ganhe. O resultado final é que os mineradores PdT trabalham com 100% de capacidade, 24 horas por dia. Essa demanda extrema de energia continua a crescer com o valor das recompensas nos blocos que eles estão tentando ganhar.

    Por outro lado, na prova de participação os proponentes do bloco são selecionados aleatoriamente – removendo completamente a exigência de uma corrida armamentista. Não há como aumentar a probabilidade de que qualquer nó específico seja escolhido para propor um bloco – portanto, não há necessidade de consumir cada vez mais energia para melhorar suas chances competitivas.

    Como os nós PdP são estimados em 99% (ou mais) mais eficientes do que seus equivalentes PdT, o PdP representa um grande avanço para a eficiência energética da tecnologia blockchain.

    — o —

    Notas

    Sharding e Beacon Chain

    Sharding [fragmentação] é o processo de dividir um banco de dados horizontalmente para distribuir a carga – é um conceito comum em ciência da computação. No contexto do Ethereum, o sharding funcionará com outros módulos para dividir os rollups da camada 2 em fragmentos de rede, distribuindo o fardo de lidar com a grande quantidade de dados necessários para rollups em toda a rede. Os fragmentos podem ser pensados também como sub-redes na blockchain. O propósito é reduzir o congestionamento da rede e aumentar as transações por segundo.

    O Beacon Chain contém toda a lógica para manter os fragmentos de rede [shards] seguros e sincronizados. A Beacon Chain coordenará os validadores da blockchain, encaminhando-os aos fragmentos nos quais eles precisam trabalhar. Também facilitará a comunicação entre os fragmentos, recebendo e armazenando dados de transação dos fragmentos que podem ser acessados por outros fragmentos. Isso dará aos fragmentos um instantâneo do estado do Ethereum para manter tudo sincronizado.

    Triplo halving

    “The Triple Halving” é o nome que a comunidade Ethereum dá à grande queda na emissão de ETH que ocorrerá quando “The Merge” ocontecer e o Ethereum estiver totalmente portado para o algoritmo de prova de participação. “The Triple Halving” é uma brincadeira com o “Halving” do Bitcoin. Enquanto o Bitcoin reduz pela metade sua taxa de emissão a cada 4 anos, o Ethereum verá sua taxa de emissão reduzida em cerca de 90% no momento da fusão. Isso é equivalente a 3 Bitcoin “halvings” acontecendo ao mesmo tempo. O Ethereum experimentará uma redução de emissão repentino, o que levará mais de 12 anos para ser correspondido na rede do Bitcoin.

    Fontes:

    https://ethereum.org

    https://ethmerge.com

    Notáveis Fazem Alerta Sobre as Criptomoedas

    Um evento muito importante sobre as criptomoedas aconteceu nesta semana, e, como sempre, passou abaixo do radar da grande mídia Tupiniquim. É exatamente por isso que este blog existe.

    Imagem: Pexels

    Um grupo de tecnologistas renomados uniu forças para pressionar os legisladores dos EUA a reprimir a crescente indústria de criptomoedas, marcando o primeiro esforço conjunto para combater o lobby bem financiado por empresas de blockchain.

    O Financial Times [não vou dar link pois essa é uma das muralhas de pagamento mais formidáveis da Internet] reporta que

    o professor de Harvard Bruce Schneier, o ex-engenheiro da Microsoft Miguel de Icaza e engenheiro-chefe do Google Cloud Kelsey Hightower, estão entre os 26 cientistas da computação e acadêmicos que assinaram uma carta [link, em inglês] entregue aos legisladores dos EUA criticando fortemente os investimentos em criptomoedas e a tecnologia blockchain. Embora várias pessoas já tenham feito avisos semelhantes sobre a segurança e a confiabilidade [ou falta de] dos ativos digitais, esta iniciativa marca um esforço mais organizado para desafiar a crescente influência dos defensores das criptomoedas, que querem resistir às tentativas de regular esse setor movediço.

    “As alegações que os defensores do blockchain fazem não são verdadeiras”, disse Schneier. “Não é seguro, não é descentralizado. Qualquer sistema em que alguém pode perder suas economias porque esqueceu a senha de acesso não é um sistema seguro”, acrescentou. “Estamos fazendo um contra-lobby, é disso que trata esta carta”, disse o signatário e desenvolvedor de software Stephen Diehl. “A indústria de criptomoedas tem seu próprio pessoal, e eles falam o que querem aos políticos.”

    Uma análise recente feita pelo Public Citizen, um grupo de defesa do consumidor, sobre o banco de dados de divulgação de lobby do Congresso dos EUA, revelou que o número de lobistas que representam a indústria de cripto aumentou de 115 para 320 entre 2018 e 2021, e o dinheiro gasto em lobby para o setor de cripto quadruplicou de US$ 2,2 milhões a US$ 9 milhões no mesmo período. A Coinbase, cambista de criptomoedas com sede nos EUA, liderou o esforço com 26 lobistas e US$ 1,5 milhão gastos em lobby em 2021. Empresas com crescente interesse no setor de criptomoedas, incluindo Meta, Visa e PayPal, também fizeram lobby para o setor. Enquanto isso, as principais cambistas de criptomoedas, como FTX, Binance e Crypto.com, também gastaram muito em acordos de patrocínio com estrelas do esporte e do entretenimento para promover seus produtos ao público.

    Contra-ataque

    Note que essas pessoas não são a turma do capital. São cientistas da computação reais pedindo que esses esquemas, que muitos equiparam a pirâmides financeiras, sejam controlados. Eles não têm tempo a perder em discussões fúteis.

    Há tempos esses especialistas alertam contra a adoção intempestiva de criptomoedas. Stephen Diehl disse tempos atrás que os Tokens Não Fungíveis são uma farsa e recebeu tanta atenção que os “cripto bros” escreveram alguns artigos atacando-o. Portanto não é surpresa que ele esteja contra atacando no Congresso.

    Para minhas finanças pessoais, devo dizer que estou absolutamente apavorado que esse tipo de ativo esteja sendo tratado como ativo real. O crash do mercado de 2008 envolveu a propriedade imóvel. Desta vez folgo que serão apenas macacos entediados.

    Distinção e responsabilidades

    Uma distinção importante é que as moedas chamadas “fiduciárias” são controladas por governos e bancos centrais que têm interesse em manter a estabilidade da economia geral e não inflacionar o valor de cada unidade de moeda, porque também é o governo e os bancos centrais que têm a responsabilidade de financiar a recuperação de qualquer colapso econômico.

    Por outro lado, as criptomoedas são controladas por entidades que têm interesse em inflar o valor de cada unidade de sua moeda e não se importam se a moeda eventualmente entrar em colapso porque eles apenas vão continuar seu caminho, à espera do próximo esquema – você não vai encontrar os mineradores de bitcoin para pagar os custos de moradia, alimentação ou o auxílo-desemprego das pessoas afetadas se e quando o bitcoin cair e acabar com bilhões em investimentos. A indústria de criptomoedas espalhou tanta fumaça na paisagem que os meros mortais não fazem a menor ideia do que isso tudo significa. Essa mesma indústria também conseguiu fazer com que as pessoas acreditassem que este é o futuro, e se você não vê esse futuro você é obviamente uma pessoa das cavernas.

    Conselho grátis

    Meu conselho aos formuladores de políticas: se você não consegue entender essa conversa de criptomoeda, provavelmente há uma boa razão, e não é porque você é estúpido. É porque a coisa toda é terrivelmente complexa. Confie em si mesmo e os desafie para o debate. No minuto em que você colocar um cripto-bro na frente do congresso, fizer perguntas em português claro, e o cripto-bro não conseguir dar respostas inteligíveis, será um sinal claro para acionar o alarme.

    Há um segmento de formuladores de políticas [para não citar aquele que não deve ser citado] que pensam que o Brasil – ou qualquer outro país – será condenado ao atraso financeiro se não embarcar nessa canoa. O melhor que se pode dizer sobre o assunto é que as criptomoedas são uma solução à procura de um problema. O pior que pode ser dito… Por onde começo?

    Confie no seu instinto, tenha coragem e apenas diga não.