Eu tenho argumentado que as mídias sociais – assim como um grande número de blogs – permitem que as pessoas se distorçam de maneira doentia para obter lucro.

Quando a reinvenção pessoal para o sucesso comercial se torna a norma, é fácil perder de vista as próprias necessidades enquanto se concentra em atender às demandas insaciáveis do público. Há uma grande diferença entre apresentar bem-estar para um público e realmente tê-lo alcançado.
O ciclo implacável de vender e reembalar o ego não apenas cria uma variedade estonteante de personas a serem mantidas, mas também estabelece as bases para uma crise existencial quando a demanda por essa identidade curada diminui.
A morte da ‘momblogger‘
Este mês de maio viu o passamento, aos 47 anos, de Heather Armstrong, uma das primeiras blogueiras a documentar os altos e baixos da maternidade. Armstrong, conhecida por seus fãs pelo nome de seu site, Dooce, morreu por suicídio, de acordo com seu parceiro, Pete Ashdow – como também fartamente noticiado na mídia de língua inglesa.
Nos anos finais de sua vida, Armstrong já era conhecida postumamente, por assim dizer; escrevendo no Instagram para uma fração de seu antigo público; seu passado mais conhecido do que seu presente. Tenho certeza que muitos bloguistas, podcasters e os variados especialistas virtuais de hoje são capazes de entender o drama de Heather, uma vez que compartilham, em graus variados, a mesma experiência agridoce. Nas redes sociais, inúmeras pessoas se entregaram inteiramente ao jogo da criação de conteúdo pessoal – fazendo jogadas que invariavelmente levarão a retornos decrescentes, até que não tenham mais jogadas a fazer.
Armstrong via a si mesma como uma empresa dedicada ao melhoramento pessoal. Mas será que ela realmente escrevia para seu público ou dialogava consigo mesma? Seu trabalho autobiográfico final, The Valedictorian of Being Dead, foi projetado para consumo, e não para grande voos filosóficos ou qualquer tipo de debate sério. Portanto, a questão permanece: quem ela realmente tentava influenciar?
Se você projetar sua vida para o consumo, ela será consumida. Longe de pretender julgar instâncias alheias, isto é um alerta – e para mim mesmo um mantra, que repito como expiação de fracassos, ou como desculpa. E o que acontece depois? É tão surpreendente que o vazio que sobra seja aterrorizante? Quando sua existência é uma piada pronta, uma boa história paga, uma anedota fofa, uma opinião – reveladora – sobre o que fazer e não fazer… Quando sua experiência de vida se torna simplesmente uma busca por qualquer conteúdo novo e monetizável, e suas escolhas são feitas com uma piscadela e um aceno de cabeça para os assinantes. O que você se torna quando não há mais nada para rir, zombar, satirizar ou ridicularizar? Quem é você depois de ter vendido tudo? O que realmente resta?
E você se pergunta: “Como cheguei aqui?”. “Para onde vai esta estrada?” E você pode se perguntar: “Estou certo? Estou errado?” E você talvez diga diante do espelho: “Meu Deus, o que eu fiz?”
Não foi a primeira e claramente não será a última vez que um ser humano descobre que a objetificação absoluta do Self é uma espécie de barganha faustiana, como a destilada em ‘Dorian Gray’. No fim, parece que a triste Sra. Armstrong achou o preço final alto demais para continuar a pagar. Que ela esteja em paz e que seu martírio não tenha sido em vão.