A maioria dos veículos da mídia tradicional tem insistido que a Rússia vai invadir a Ucrânia amanhã (16/02). A data pode estar errada, mas, como disse uma das minhas fontes, “se você der brinquedos a uma criança, ela acabará brincando com eles”.

Faço a seguir, com minhas palavras, um rápido apanhado do que pude levantar sobre esse tema, nos últimos três dias, junto a alguns dos meus contatos estrangeiros na indústria da segurança e inteligência. Eu recorri à opinião deles eles na tentativa de estimar o potencial impacto dessa crise nas atividades na Internet, mais o que esperar agora, as consequências futuras, etc, tanto para meu consumo próprio e quanto para compartilhar com meus leitores.
Como não é difícil deduzir, todas as atividades relacionadas ao trinômio informação-comunicação-tecnologia [ICT] serão impactadas negativamente por qualquer potencial ação militar. Essa será uma questão não apenas das “partes em conflito”, mas um problema global, à medida que malware(*) de todos os tipos, extremamente viciosos, se espalharem para cada canto da internet. Não é possível precisar o caos que “guerra cibernética total” trará, mas evidências anteriores sugerem que, se começar, tomará conta de todo o mundo em menos de 24 horas.
Cyber Warfare
A Rússia até agora não usou tropas ou armas convencionais para atacar a Ucrânia, mas isso não significa que não a tenha atacado. Ela faz isso incansavelmente há anos usando armas eletrônicas e psicológicas.
Os Estados Unidos também têm sido alvo de hostilidades semelhantes, principalmente no que diz respeito à desinformação e campanhas de influência em torno das eleições. Mas algo muito pior pode estar por vir. Agora as apostas são maiores. Em vez de continuar com intermináveis guerras partidárias, os americanos deveriam se unir em um esforço para se preparar para o que pode ser um ataque sério à sua infraestrutura eletrônica. Isso deve receber o mesmo senso de urgência que um ataque militar iminente despertaria.
As consequências de uma guerra cibernética real [e absolutamente inédita] são algo que todos os americanos, e em larga medida o ocidente, deveriam considerar com especial seriedade.
Um exemplo vivo na memória é o ataque NotPetya de 2017 contra a Ucrânia, no qual alguns computadores pertencentes aos setores financeiro, comercial e de rede elétrica foram apagados. Pense também em ataques maciços de ransomware, e outros danos que colocariam os sistemas financeiros, a infraestrutura e o governo de joelhos. Um ataque como esse em escala global seria catastrófico.
Uma coisa é quase certa, nenhum sistema operacional ou aplicativo de consumidor/comercial atual tem qualquer resiliência à infinidade de ataques que serão liberados muito rapidamente em um ataque cibernético massivo. Atualizações de segurança não serão uma opção, pois seus repositórios de distribuição estarão também comprometidos.
É sabido que existe malware capaz de transformar chips da Intel em nada mais do que pequenas pastilhas de silício. Da mesma forma, todo Flash ROM [pendrive] deve hoje ser considerado portador de malware persistente, instalado por meio de ataques cirúrgicos à cadeia de suprimentos realizados previamente – nos últimos dez anos. Esses pequenos componentes eletrônicos constituem a base do sistema econômico ocidental.
Portanto, agora pode ser um bom momento para as organizações investigarem seriamente a opção de “puxar o plugue da conectividade” em tudo o que não seja essencial. Além disso, cercar/segregar rigidamente a conectividade essencial como se fosse Chernobyl.
Outra coisa a considerar, agora e para o futuro, especialmente se a guerra se materializar, é como proteger a segurança, a integridade e a disponibilidade de seus ativos na Nuvem no médio e longo prazos. Um cenário de guerra cibernética semipermanente traz muitos obstáculos – alguns intransponíveis – a esse modelo de negócio.
Se você é um investidor semi profissional ou amador, este é o momento de checar seu portfólio e (re)considerar onde seu dinheiro é investido.
Um efeito colateral será o preço das cripto moedas, que [eu suspeito] se tornará ainda mais volátil. Espere muita especulação e fraude/roubo à medida que novas moedas e sistemas de contrato surgem procurando por dinheiro fácil e grandes quantidades de energia para impulsionar os esquemas.
Qualquer aumento na especulação de cripto moedas causará um aumento exponencial nos ataques à ICT.
Conclusão
A guerra cibernética é uma incógnita, mas a história sugere que será ruim para os vulneráveis e despreparados. A maioria dos sistemas de negócios está muito exposta e não tem capacidade de parar o tipo de malware que espera nos arsenais de guerra cibernética. Portanto, esses sistemas serão cooptados, destruídos, ou ambos, em uma guerra cibernética “total”.
(*)Nota: A palavra Malware [assim como hardware, software e qualquer outro ware] não tem plural em inglês. Essa é a convenção que adotamos neste blog.