Inteligente Demais

Uma das falácias mais persistentes é a associação reflexiva de riqueza com sabedoria

Ed Borgato
Imagem: iStock

A riqueza de alguém pode ser um sinal de boas decisões, mas será que essas decisões podem ser repetidas sempre com o mesmo sucesso? E mais, será que boas decisões em um campo se traduzem em sabedoria em outras áreas da vida? Talvez sim, talvez não – é o melhor que podemos dizer. Há momentos em que possuir uma riqueza excepcional pode impedir a empatia com as pessoas comuns, tornando o insight mais precário.

Uma falácia semelhante, um pouco mais difícil de entender, é supor que pessoas inteligentes têm sempre as respostas certas.

Pode ser que realmente elas tenham. Mas a inteligência em um campo se mantém intocada em outros? Uma pessoa exímia em testes matemáticos será também um líder excepcional?

Pode ser. Nunca é tão claro

E, como a riqueza, há situações em que as pessoas se tornam inteligentes demais para o seu próprio bem; quando a inteligência se torna uma desvantagem e bloqueia boas decisões.

Algumas causas:

A capacidade mental de criar histórias complexas torna mais fácil enganar as pessoas, incluindo a sí mesmo.

Conheço pessoas com quem eu não gosto de debater sobre a questão: “quanto é 2 + 2?” porque elas invariavelmente enveredam por complexas ginásticas filosóficas que me deixam exausto ou convencido de que a resposta pode não ser quatro.

O problema é que essas pessoas podem fazer essas coisas também consigo mesmas.

Richard Feynman, habitante de um dos nichos do meu panteão, disse: “O primeiro princípio é que você nunca deve se enganar – e você é a pessoa mais fácil de enganar”. Quanto mais inteligente se é, acho que mais verdadeiro isso se torna.

Quando você é abençoado com inteligência, você é amaldiçoado com a capacidade de usá-la para inventar histórias intrincadas sobre por que as coisas acontecem – especialmente histórias que justificam um erro ou a crença de que, no final, você estará certo – em uma área em que está obviamente errado.

As grandes catástrofes em qualquer campo não são causadas por falta de inteligência. Elas são normalmente causadas por inteligência extrema, que faz com que as pessoas acreditem em suas próprias histórias perigosas – por exemplo a ilusão de que podem prever tudo com precisão – e ignorem os sinais de alerta que seriam óbvios para uma pessoa normal, menos adepta a elucubrações.

As tarefas chatas geralmente são importantes, mas as pessoas mais inteligentes são as menos interessadas nas tarefas chatas.

Noventa por cento das finanças pessoais se resume a apenas gastar menos do que você ganha, diversificar investimentos e ser paciente. Mas se você é muito inteligente, isso se torna muito chato e começa a parecer um desperdício de potencial. Você quer gastar seu tempo com os 10% das atividades financeiras que são mentalmente estimulantes.

Isso não é necessariamente ruim. Mas se o seu foco na parte emocionante das finanças começa a turvar a atenção ao 90% que é importante e entediante, o caminho para o desastre está traçado. Fundos de hedge explodem e executivos de Wall Street vão à falência fazendo coisas que uma pessoa menos inteligente jamais consideraria.

Algo semelhante acontece na medicina, um campo que atrai pessoas brilhantes que podem se tornar mais interessadas em tratamentos inovadores para doenças do que em sua enfadonha prevenção.

Há um ponto ideal em que você entende claramente as coisas importantes, mas não é inteligente o suficiente para ficar entediado com elas.

A inteligência pode dificultar a comunicação com pessoas comuns. Elas podem ter o insight que você está desesperadamente procurando. Quantos acadêmicos descobriram algo incrível, mas escreveram um artigo tão denso e complexo que ninguém conseguiu entender? E quantas pessoas comuns seriam naturalmente capazes de trazer para o mundo real a descoberta de um gênio, se apenas pudessem entender o que está escrito em seu artigo acadêmico?

A resposta tem que ser: muitas

O cientista da computação Edsger Dijkstra escreveu certa vez:

A complexidade tem uma atração mórbida. Uma palestra acadêmica que seja cristalina do início ao fim, às vezes pode deixar em alguém um certo ar de insatisfação, no limite da indignação por ter sido “enganado”. A dura verdade é que a complexidade vende melhor.

Quando a complexidade é a linguagem preferida das pessoas muito inteligentes, grandes ideias podem ser excluídas do entendimento das pessoas comuns. Parte do fascínio da era da informação é que as ideias podem ser compartilhadas entre grandes grupos de pessoas. Mas isso não se aplica aos superinteligentes – eles falam uma linguagem diferente.

Ocasionalmente aparece alguém como o já citado Richard Feynman, cuja habilidade para contar histórias é igual à sua genialidade. Mas é isso é algo muito raro. Comunicação e inteligência não são apenas habilidades separadas; elas podem até se repelir de forma que, quanto mais inteligente você se tornar, mais complexa será sua comunicação e menor será o público que você poderá persuadir.

O segredo para escapar dessa armadilha, como de tantas coisas, é respeitar o equilíbrio e a diversidade de visões.

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Com este post eu me despeço das minhas caras leitores e leitores, para dar uma pequena pausa em nosso blog. Muitas coisas acontencendo ao mesmo tempo e preciso de uns dias para colocar a) coisas em ordem e b) outras em funcionamento.

Se esta é sua primeira vez no blog, fique à vontade e explore nossos quase 100 artigos sobre Tecnologia da Informação et al. Use a ferramenta de procura do site e os nossos arquivos. Todo o conteúdo ainda é muito atual, e grande parte continua exclusiva de nosso site.

O segundo semestre será muito estimulante, com a perspectiva de uma certa normalização da vida [embora nada esteja garantido, como sempre], e início de novos projetos. Não faltará assunto no blog. Vou continuar trabalhando, e se algo extraordinário acontecer eu entro na linha. Muita paz e saúde a todos. Take Care! Até Agosto! 🙂

Eraldo Bernardo “Bravo” Marques

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