Este blog não está indo bem, apesar de todos os meus esforços. Ele completa quatro meses em 4 de julho e ainda não encontrou sua audiência: os geeks, nerds e público geral interessado em tecnologia e ciência. Eu sabia que seria uma jornada difícil [talvez não haja geeks na Butocúndia!], mas não antecipei tanta rejeição.

Pelo que vejo, mesmo grande parte dos nobres seguidores não visitam o site. Nem os amigos que eu considero próximos. Nem ninguém, além do núcleo duro de meus(minhas) valiosos(as) e valorosos(as) seguidores(as). O Brasil é um país deficiente em ciência e polimento cultural. Eu devia saber que a expectativa de sucesso para um empreendimento como este blog é próxima de zero.
Curiosamente, tecnologia e ciência são nichos vibrantes na blogosfera em inglês, e eu acho [achava?] que tenho [tinha?] condições de ocupar este nicho em língua portuguesa. Mas este é o Brasil da Terra Plana, da cloroquina e do “tratamento precoce” para doenças virais. Não vejo perspectivas de melhora para o país. Estamos em uma corrida “cuesta abajo” para o fundo do poço. O povo brasileiro, povo de poucas luzes, parece definitivamente preso nas tortuosas catacumbas mentais das redes sociais e dos grupos de ódio. Sei que tudo isso vai terminar em desastre para o país [talvez o desastre já esteja em curso]. Mas eu me acostumei a ser uma Cassandra, e também sei que ninguém me dará ouvidos. Sigamos.
De qualquer forma, a rejeição faz [em mim – talvez eu seja um narcisista] um sentimento de derrota que se infiltra na alma, e acaba levando o pensamento a limites radicais. Me peguei remoendo pulsões de morte na semana passada. Saí para pesquisar minha ‘malaise’, e, no meio de tantas leituras, encontrei um tema fascinante, sobre um fenômeno que muitos já devem ter registrado em algum momento de suas vidas. Me surpreendi ao ver que o assunto chega a ser uma linha de investigação científica [não no Brasil, of course].
Quebrando a disciplina do blog [afinal eu mando aqui e estou precisando exorcizar esses pensamentos], e fingindo que este tema é “ciência” [de fato é ciência], compartilho com vocês, a seguir, o que encontrei sobre a Lucidez Terminal.
Talvez você já tenha ouvido falar do fenômeno [ou testemunhado em sua experiência de vida] em que uma pessoa moribunda, que estava confusa, exausta, alternando períodos de consciência-inconsciência, de repente recobra a clareza mental e se aviva, por um certo período de tempo. O que seria isso? Uma ocorrência médica real ou um mito, lenda urbana? Muitos médicos e enfermeiras de cuidados paliativos afirmam que isso de fato acontece e que as famílias deveriam ser informadas sobre essa possibilidade. Esse suposto período de surpreendente clareza mental tem implicações importantes para a paz de espírito do paciente e da família.
O que é Lucidez Terminal?
Lucidez terminal é o termo médico que se aplica a um período de maior clareza mental e atividade durante o processo de morte.1 Pode durar minutos, horas e até dias. É comumente observado como ocorrendo de uma semana a um dia antes da morte, mas já foi documentado ocorrendo no último mês de vida.2 Para alguns autores, alucinações muitas vezes acompanham a lucidez terminal.3 [no entanto, a associação com episódios alucinatórios é controversa em pelo menos duas frentes].

A Lucidez Terminal é Real?
Não há uma explicação médica aceita universalmente para a lucidez terminal e poucas explicações modernas são oferecidas.2 Embora existam alguns relatos de casos acadêmicos e séries de casos, 3 muitos dos relatórios disponíveis para os pesquisadores ficam aquém dos requisitos éticos e científicos habituais. Por outro lado, deve-se reconhecer que a maioria dos projetos para estudos de qualidade sobre o assunto não seriam permitidos, em razão de a lucidez terminal ocorrer por apenas alguns minutos, horas ou poucos dias. Seria antiético usar parte desse precioso tempo para conduzir um estudo.
A lucidez terminal é reconhecida na literatura médica e remonta à Grécia antiga.4 No século 19, a literatura médica afirmava que um período de alerta inexplicável era um sinal de que o enfermo tinha menos de uma semana de vida.5
Quem experimenta a lucidez terminal?
As discussões sobre a lucidez terminal parecem mais comuns no contexto da doença de Alzheimer e da demência. Isso não é por acaso; se for descoberta sua verdadeira natureza e os mecanismos subjacentes, tratamentos para a doença de Alzheimer e a demência também poderiam ser descobertos. Mas o fato é que a lucidez terminal foi descrita em uma ampla gama de condições médicas. Foi documentado que ocorre em pessoas com:
- Alzheimer
- Demências
- Esquizofrenia
- Transtornos de personalidade
- Meningite
- Infarto
- Tumores cerebrais
Em estudos bem mais antigos, essa lista incluía a raiva e infecções. Em um estudo contemporâneo, a Dra. Sandy MacLeod explorou a interação direta com 100 pessoas moribundas e foi capaz de registrar casos de lucidez terminal. Ela concluiu que os casos estudados não foram capazes de permitir a identificação de preditores do fenômeno. A lucidez terminal é, portanto, imprevisível.
Quão comum é a lucidez terminal?
Uma revisão da literatura anterior, incluindo todos os relatos de ocorrência (observação médica e relatos familiares) estimou que a lucidez terminal ocorre para cerca de quatro em cada dez pessoas que enfrentam um processo de morte prolongado.6 No estudo da Dra. MacLeod, cem pessoas foram observadas diretamente em seu último mês de vida. Ela foi capaz de observar seis casos.3 Isso colocaria a prevalência em torno de 6% dos casos. Alguns autores sustentam que a lucidez terminal tem baixa prevalência na literatura médica e científica atual. Eles ainda levantam a conjectura de que o fenômeno poderia ter sido mais comum em tempos passados e que o uso regular de medicamentos diversos nos cuidados modernos pode mascarar o efeito.2,5
Como a lucidez terminal afeta as famílias?
Os relatos pessoais frequentemente dão conta de famílias que interpretam a lucidez terminal como a recuperação do paciente. Isso pode fazer com que uma morte poucos dias depois pareça uma perda ainda maior.2 É por isso que alguns profissionais de cuidados paliativos defendem que seria positiva a educação das famílias sobre a lucidez terminal, a despeito das evidências científicas limitadas. Se as famílias tiverem a consciência de que que um período de atividade e clareza mental pode sinalizar a conclusão do processo de morte, é mais provável que elas comecem a encarar a lucidez terminal como o que ela realmente é: um presente da natureza; uma última chance para colocar os assuntos em ordem.
Quanto a este blog e sua rejeição percebida, os especialistas em marketing online me tranquilizam dizendo que o tempo de maturação para esse tipo de empreendimento vai de seis meses a dois anos. Portanto, aparentemente ainda há esperança para mim [e meus negócios na Internet]. Mas não vejo esperança para o povo brasileiro. Sempre preguiçoso, cheio de manhas, sem uma bússola moral discernível, iletrado, infantilizado, irresponsável, supersticioso, fraco de caráter, amante de superficialidades, avesso à cultura e à iluminação, vítima facílima de tiranetes e enganadores [+ 46 defeitos], esta sociedade contraiu uma doença histórica fatal e está moribunda. O ano de 2022 poderá ser o momento de lucidez terminal do povo brasileiro. Meu conselho grátis: se você ainda é jovem, FUJA AGORA!
Referências [sem frescuras porque já estou cansado da ABNT]:
[1] https://digital.library.unt.edu/ark:/67531/metadc461761/
[2] https://doaj.org/article/dd6a9d84b3db4b40bd9a919ac147501b
[3] https://reference.medscape.com/medline/abstract/19939314
[4] https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21764150/
[5] Macleod S. The psychiatry of palliative medicine: the dying mind. Radcliffe Publishing; 2011.
[6] https://journals.lww.com/jonmd/Abstract/2009/12000/Terminal_Lucidity_in_Patients_With_Chronic.12.aspx
Parabéns, pelo belo texto!
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Oi, Vanessa! Obrigado, querida. Fiquei contente com sua mensagem. Logo vamos poder nos reunir. Abraço saudoso, beijos. 🙂
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Vanessa, quero ver seu blog! 🙂 Beijão!
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