Este Blog Não Será Eterno

Estou considerando um experimento, imitando o blog de meu guru, Bruce Schneier [meu vizinho físico nos servidores do WordPress], que consiste em dedicar as sextas-feiras a assuntos não técnicos, filosofia, política, artes e por aí afora. É uma tentativa de aliviar o espírito da semana de trabalho e entrar no mood do fim de semana. Vamos testar essa ideia hoje para ver se dá certo.

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Dizem que o que é colocado na Internet dura para sempre. Essa é uma simplificação exagerada. Embora alguns conteúdos possam durar décadas, nada é eterno, nem mesmo na Internet. A verdade é que o conteúdo sobrevive apenas enquanto alguma pessoa ou organização estiver disposta a pagar para hospedá-lo. Servidores, eletricidade e largura de banda na rede custam dinheiro. O que sobrevive depende completamente dos valores, gostos e perspectivas das partes que o hospedam.

Muito do que a Internet contém tem uma vida útil extremamente curta em comparação com o resto da história. Para muitos de nós, talvez para a maioria de nós, grande parte do que postarmos ficará mais ou menos escondido na obscuridade, até que finalmente desapareça para sempre. E, com razoável certeza, nossos insights mais profundos terão duração muito mais breve, nesta sociedade que parece valorizar apenas as pequenas ideias, facilmente digeríveis.

Muitos indivíduos contribuem para a Internet de maneira pessoal, compartilhando voluntariamente seus pensamentos, conhecimentos, lutas, triunfos e fracassos. De todas as origens e perspectivas, eles publicam seus diários, ensaios e histórias online. Eles publicam não apenas na Web normal, mas também nos protocolos Gopher, Gemini, Tor e outras redes alternativas. A maioria do que se fala na rede é insignificante. Algumas coisas são quase imperceptíveis. Mas alguns conteúdos são bem escritos, estimulantes, reveladores e instigantes.

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Ultimamente, tenho ficado particularmente impressionado com os escritos de pessoas do espectro autista. Eles podem ter grande dificuldade de serem compreendidos no mundo cotidiano, mas muitos parecem ter pouca dificuldade em registrar suas emoções no texto. Nesse meio, eles compartilham brilhantemente a dor de seu isolamento entre outros seres que não os compreendem e provavelmente nunca os compreenderão [e eu, em minha solidão intelectual, me identifico com eles]. Eles revelam sua angústia em palavras que não podem ser ignoradas. São pessoas inteligentes cujos escritos muito humanos brilham com emoção e compreensão.

Não desejo desencorajar aqueles que produzem conteúdo que algumas pessoas podem considerar banal. Para eles, eu digo [em minha completa insignificância] para continuar escrevendo e compartilhando. Pra aprender a escrever bem é preciso escrever muito [eu acho]. Publique o que quiser no seu blog. Compartilhe conosco o que você escolher.

Sempre que encontro uma pessoa inteligente e talentosa [como muito(a)s aqui na plataforma WordPress], meu espírito voa. Logo depois, afunda, pois percebo que a maioria deles só mantêm a rotina de postagem em seus cantinhos isolados da Internet por um breve período. Examinando os vazios do Gopher, por exemplo, vejo muitas pessoas que nunca vão além de proclamar, com entusiasmo, sua existência: “Esta é minha nova casa na rede gopher!” eles dizem com orgulho. E, então, nada. Silêncio.

Eles nunca mais postam. Se postarem, podem publicar três ou quatro artigos antes de parar para sempre. Só muito raramente eles continuam a escrever por anos a fio. Mas mesmo esses blogs acabam morrendo. Isso é deprimente; é como um velho amigo indo embora, para nunca mais ser visto ou ouvido. Sinto isso de forma especialmente aguda quando tropeço em parágrafos como estes digitados há alguns meses por um escritor anônimo em um blog:

Finalmente tenho uma casa em um canto do Gopherspace, o que me leva de volta às minhas primeiras memórias da internet, antes que ela se tornasse tão popular (ou eu tivesse os meios e as máquinas para acessá-la e navegar nela). Ainda sinto saudades das tecnologias simples e funcionais da época, em comparação com a loucura de hoje em nome do avanço tecnológico e com a nossa obsessão pela popularidade. Por isso comecei a escrever aqui, onde não terei que me preocupar nem com o progresso nem com a fama!

Em uma postagem diferente, o mesmo escritor revela uma visão calmante, mas efêmera:

Sentado na minha mesa de frente para a janela à noite, com a lâmpada da minha mesa iluminando a sala mal iluminada, olhando de vez em quando para a estrada e as árvores na chuva torrencial, tomando uma xícara quente de chá de ervas enquanto digito isto em um computador de uma época diferente, para despachá-lo para os poucos habitantes desconhecidos desses cantos antigos e há muito esquecidos da internet, este momento no tempo, e meu mundo e vida, tudo parece estar em perfeita harmonia

Esse é claramente um escritor habilidoso, mas me exaspero quando percebo que aquele par de postagens podem muito bem ser as únicas que ele vai compartilhar, de sua casa de (provavelmente) curta duração na Internet. Qualquer coisa escrita em qualquer outro lugar por essa pessoa provavelmente será ignorada, banida ou efetivamente enterrada sob o ruído interminável das redes sociais ou do hype pago que os departamentos de marketing lançam para seus mestres corporativos.

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Como descobri por meus próprios esforços, escrever um blog é difícil e muito demorado. A recompensa está principalmente na vaga esperança de que eu possa fazer uma pequena contribuição positiva para um mundo que é amplamente indiferente, e talvez um tanto ingrato – não que eu afirme que minhas palavras mereçam mais elogios do que as dos outros. Ocasionalmente, colegas bloguistas ou outras pessoas atenciosas me dão algumas palavras de encorajamento.

Como a juventude, muitas das melhores coisas da vida passam despercebidas, não são apreciadas e não são alardeadas. Então, um dia, tudo acaba.

7 comentários sobre “Este Blog Não Será Eterno

    1. Você é uma das pessoas que eu tinha em mente ao escrever. Eu sonho tentar recompor a ‘ecologia’ dos blogs, como foi no início da Internet. Quem sabe montar uma grande Liga dos Bloggers. As pessoas precisam se expressar mais, fora dos Jardins Murados das redes.

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